Na mira da Justiça, campo de golfe da Olimpíada vira tabu em visita do COI
A disputa judicial a respeito da sustentabilidade da obra do campo de golfe da Olimpíada de 2016 virou um "tema proibido" para membros do COI (Comitê Olímpico Internacional) e do Comitê Organizador da Rio-2016. Em entrevista coletiva concedida nesta quarta-feira (1), todas as perguntas a respeito da construção, que está sendo contestada pelo MP (Ministério Público), receberam respostas evasivas dos dirigentes ligados à organização dos Jogos.
O presidente do Comitê Organizador Rio-2016, Carlos Nuzman, a presidente da Comissão de Coordenação do COI para os Jogos de 2016, Nawal El Moutawakel, e o novo diretor executivo do COI para Jogos Olímpicos, Christophe Dubi, foram questionados sobre a situação do campo. Eles concederam uma entrevista para fazer um balanço da preparação do Rio para a Olimpíada. Nenhum deles, entretanto, falou sobre sustentabilidade ambiental da instalação nem comentou a batalha jurídica sobre a obra.
"Todas as questões relacionadas ao campo de golfe são de responsabilidade da Prefeitura", disse Nuzman, na primeira vez que o campo de golfe virou assunto de uma pergunta da entrevista coletiva. Nem o prefeito Eduardo Paes nem qualquer representante da administração municipal estavam presentes no evento.
Após a resposta evasiva de Nuzman, um repórter voltou a questionar o COI a respeito da obra, a qual está devastando vegetação nativa do Rio de acordo com um inquérito do MP. Nawal, então, falou sobre o assunto, mas também nada disse sobre a sustentabilidade da obra ou sobre o risco de paralisação da mesma.
"A cidade está lidando com essa questão", disse ela. "Estivemos ontem no campo. Tudo nos pareceu bem."
Dubi, novo diretor do COI para Olimpíadas, também não se posicionou sobre o campo.
As obras do local seguem andando. Contudo, a qualquer momento podem ser paralisadas por uma decisão judicial.
O MP solicitou a cassação de toda licença para o empreendimento. Duas audiências de conciliação foram realizadas, mas nenhum acordo entre MP, prefeitura e construtora (Fiori Empreendimentos) foi fechado. Cabe, agora, á Justiça decidir se o campo prejudica mesmo a preservação do meio ambiente.
Horas antes da entrevista coletiva dos membros do COI e do Comitê Rio-2016, o prefeito Paes disse que a obra está, na verdade, ajudando a recuperar uma área degradada da zona oeste do Rio de Janeiro.
Confiança no Rio
A entrevista coletiva de membros do COI encerrou mais uma visita do órgão ao Rio. As viagens fazem parte do trabalho de monitoramento do comitê à preparação da cidade para os Jogos de 2016. De seis em seis meses, a Comissão de Coordenação do COI para os Jogos vem ao Brasil.
Essa comissão chegou ao Rio de Janeiro na segunda-feira. Na segunda, seus membros participaram de reuniões com políticos e representantes do Comitê Organizador da Rio-2016. Na terça, eles visitaram as obras do Parque Olímpico e da Vila dos Atletas. Na quarta, concederam a entrevista coletiva.
Nawal disse estar “muito satisfeita” com o progresso da preparação do Rio para os Jogos desde sua última visita à cidade. Segundo ela, tanto as obras esportivas (arenas, parque olímpico, etc) quanto as de legado (corredores de ônibus, metrô, etc) estão andando dentro do prazo.
Vale lembrar que, há seis meses, a organização da Rio-2016 havia recebido um ultimato do COI. A própria Nawal declarou em março que governo e organizadores precisavam tomar decisões. Essas decisões não foram tomadas e, em abril, membros de federações esportivas criticaram duramente os Jogos do Rio.
Nawal foi questionada sobre essa mudança drástica na avaliação da preparação. Disse que todos estão trabalhando para que os Jogos sejam um sucesso.
“Faltando dois anos para os Jogos, vimos que os trabalhos estão progredindo. Ficamos felizes com o compromisso das autoridades”, disse ela. “Apesar de o cronograma ser apertado, eles demonstraram que a situação está sob controle.”
Dubi complementou dizendo que ainda há muito trabalho a ser feito. Contudo, disse que o progresso é cada mais rápido. “Todos os dias nos vemos uma aceleração exponencial”, afirmou.
Segundo Dubi, o Parque de Deodoro, cuja obra começou com cerca de um ano de atraso, também está andando bem. Segundo ele, pelo trabalho de terraplenagem, já é possível ver a paisagem do espaço e verificar que o terreno será adequado para a construção de arenas olímpicas.
*Atualizada às 16h17