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Josias: Golpe de 64 é unha encravada; não há luz, mas pus no fim do túnel

O golpe militar de 1964 ainda é uma ferida aberta no Brasil e Lula comete um erro ao deixar de abordar o assunto, comentou o colunista Josias de Souza durante o UOL News desta quinta (28).

Hoje, 1964 ainda é uma unha encravada na história do Brasil. Se a tentativa de golpe de 2022 serviu para alguma coisa, foi para mostrar que essa unha encravada ainda está cheia de pus. O presidente não pode se comportar como se enxergasse apenas luz no fim do túnel. Há pus no fim do túnel. É preciso discutir o que passou.

Lula se comporta como se quisesse transformar o Brasil em uma espécie de turista viajando de sua própria história. E um turista sui generis, que viaja em um avião enquanto sua bagagem é transportada em outra aeronave.

Preservar a memória de uma nação é importante. Quando essa memória impôs sofrimento semelhante ao de uma ditadura de duas décadas no Brasil, a preservação se torna gênero de primeira necessidade.Josias de Souza, colunista do UOL

Para Josias, ainda há tempo para Lula rever seu posicionamento e se manifestar sobre o golpe de 1964, sob pena de "desrespeitar a história" do país

Lula parte do pressuposto de que ao passar uma borracha, algo que hoje só interessa ao Bolsonaro, ele pacificará as Forças Armadas, expurgar a política dos quartéis. Quero crer que o presidente comete um erro. A partir do debate sincero e desapaixonado sobre o que aconteceu no Brasil, e não da conversão dos militares em eternos bibelôs, chegaremos a um ponto de equilíbrio.

É preciso, inclusive, discutir o papel das Forças Armadas. Não é o caso de haver um debate sério? Lula parece considerar que não. Ele acha que vai pacificar os militares jogando dinheiro nas Forças Armadas. Estamos negligenciando tudo isso e perdendo uma grande oportunidade que a conjuntura nos oferece para discutir essas questões a sério.

O presidente erra de forma muito nítida. O PT compartilharia o erro se acompanhasse Lula nessa decisão de passar uma borracha sobre 1964. O partido se distancia do presidente e cumpre seu papel. Lula precisaria levar a mão à consciência e perceber que o momento histórico exige que respeitemos a memória do país. Lula está desrespeitando a memória do Brasil. Josias de Souza, colunista do UOL

O que aconteceu

Lula vetou a realização de atos institucionais em repúdio ao golpe de 1964. O PT, porém, anunciou que participará de eventos e manifestações em memória aos 60 anos do golpe militar no Brasil.

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Reale Jr: 'É obrigatório relembrar torturados, presos e desaparecidos'

O jurista Miguel Reale Jr. criticou o veto de Lula a atos institucionais em repúdio ao golpe de 1964 e disse que é obrigatório relembrar o regime militar para evitar a repetição dos horrores praticados durante este período.

Rememorar não quer dizer deixar de olhar o futuro. É projetar para que isso não se repita. Não vejo nenhum prejuízo de rememorar o que foi e o que significou [a ditadura militar]. Contesto o presidente Lula porque uma coisa não prejudica a outra. Elas estão interligadas, ainda mais nesse momento em que se tenta reeditar 64. É obrigatório que isso seja relembrado em memória daqueles que foram torturados, presos e cujos corpos ainda estão desaparecidos. Miguel Reale Jr., jurista

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Quando: De segunda a sexta, às 10h e 17h.

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