Descrição de chapéu Governo Lula

Cientistas protestam na Nature contra corte de bolsas de pós-graduação do CNPq

OUTRO LADO: Conselho diz que, na verdade, aumentou número de bolsas, mas reconhece que programas de qualidade podem ter sofrido perdas

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São Paulo

"A comunidade científica do Brasil está enfrentando mais um revés", afirma um texto publicado, na última terça-feira (26) na revista Nature. O artigo, em seguida, descreve cortes recentes nas bolsas de estudo do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) para pesquisadores brasileiros.

Segundo a publicação no periódico, uma dos mais relevantes no meio científico, o conselho tomou a medida depois de governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tirar cerca de R$ 310 milhões das universidades federais.

Procurado pela reportagem, o CNPq diz que, na verdade, aumentou o número de bolsas, mas reconhece que programas de qualidade podem ter sofrido perdas.

Foto aérea mostra campus da UFRJ
Campus da Praia Vermelha da UFRJ - Divulgação UFRJ

Os pesquisadores também criticam mudanças de alocação de bolsas pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

"Um modelo baseado em índices de desenvolvimento humanos municipais e número médio de defesas de teses e dissertações, implementado em 2021, arrisca reduzir a qualidade de programas de pós-gradução já bem estabelecidos", diz o texto, assinado por Marcus F. Oliveira e Adriane R. Todeschini, ambos da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Os autores lembram, ainda, dos cortes ocorridos sob o governo Jair Bolsonaro (PL). "O impacto na produção científica do Brasil será considerável e quase certamente levará muitos cientistas a reconsiderar suas aspirações de carreira", diz a publicação. "Instamos as instâncias federais a reconsiderar esses cortes e advogar não apenas pela restauração, mas pela expansão do financiamento de bolsas de pós-graduação."

Um carta escrita no começo do mês pela pesquisadora Todeschini e endereçada à comunidade científica —e assinada por mais de 200 pesquisadores— ia no mesmo sentindo, expressando "preocupação e indignação" pelo corte de bolsas de pós-gradução pelo CNPq.

A autora da carta afirma que, até 2019, os números de bolsas de mestrado e doutorado oferecidos pelo CNPq eram expressivos e geralmente fixos. A partir de 2020, uma mudança levou o CNPq a disponibilizar as bolsas por meio de editais. Depois, em 2024, houve nova mudança, diz a carta, e as bolsas passaram a ser oferecidas a partir das instituições de ensino, o que teria levado à redução da disponibilização.

"[...] como evidenciado pelo exemplo da UFRJ, contemplada com 50 bolsas de mestrado e 47 de doutorado. Cabe ressaltar que a citada universidade conta com 134 programas de pós-graduação, 47 dos quais receberam a nota máxima conferida pela Capes na última quadrienal", aponta a carta, que, em seguida, cita as bolsas no âmbito do Proex (Programa de Excelência Acadêmica), pela Capes.

Ao jornal da AdUFRJ, do Sindicato dos professores da UFRJ, João Torres, pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa, afirmou que a universidade pediu reconsideração do número bolsas ofertas à UFRJ e que a universidade necessitaria de cerca 300, em vez das 97 obtidas.

O diretor científico do CNPq, Olival Freire, afirma à Folha, em nota, que, no ano passado, o conselho aumentou a oferta total de bolsa para mestrado e doutorado. O conselho diz que são quase mil novas bolsas.

Porém, Freire também afirma que, de fato, novos critérios adotados acabaram gerando diminuição de bolsas em determinados programas e instituições bem qualificados.

Segundo o diretor científico do CNPq, os critérios em questão visavam a diminuição de assimetrias regionais e institucionais, e que foram discutidos no conselho diretor do CNPq em 2019 e 200.

"Atento a esse efeito, o CNPQ, em entendimento com a Capes, está buscando os meios de reduzir este efeito sem abandonar as políticas de desconcentração das bolsas de pós-graduação de modo a contemplar um número maior de instituições e regiões", afirma, em nota, Freire, do CNPq.

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