Fim da diversão

Victor Penalber deixa "vida de garoto" por foco e se preocupa até com sexo por medalha

Gustavo Franceschini Do UOL, em São Paulo
William Lucas/ Inovafoto/ Bradesco William Lucas/ Inovafoto/ Bradesco

As promessas que você deve conhecer

Você certamente sabe quem são Arthur Zanetti, Fabiana Murer e as meninas da seleção de vôlei. Durante a Rio-2016, porém, seu repertório vai aumentar. De olho no Top 10 do quadro de medalhas, o Brasil quer colocar vários novatos em Jogos Olímpicos no pódio.

Para que você não se sinta despreparado na hora do hino, o UOL Esporte resolveu contar mais das histórias de algumas das futuras estrelas do país em uma série especial. Depois de Isaquias Queiroz e Robson Conceição, favoritos na canoagem e no boxe, é a vez do judoca Victor Penalber.

Para chegar até aqui, ele precisou amadurecer depois de uma suspensão por doping que o tirou dos tatames por dois anos. Tempo o suficiente para colocar em prática os ensinamentos do pai, o grande estrategista por trás do campeão. E como toda ajuda é pouca, na reta final para a Rio-2016 ele ganhou uma “babá” especial, que ajuda nos treinos e não deixa o “avoado” Victor esquecer de nada. 

O que fará a diferença na Olimpíada de Victor

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Defesa

Originalmente destro, Victor transformou-se em um canhoto na marra, quando teve uma lesão séria no cotovelo. A adaptação deixa o judoca mais exposto e ele precisa ter cuidado redobrado com os rivais. A solução, segundo ele, é ousar no ataque: "Quem não arrisca não petisca".

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Rivais

Antoine Valois-Fortier-CAN, Travis Stevens-EUA e Loic Pietri-FRA (foto). O trio tem sido uma pedra no sapato de Victor, que está sempre entre eles na elite da categoria até 81 kg. No Rio de Janeiro, porém, ele tem de ser preciso. Qualquer vacilo contra um deles e a medalha pode escapar.

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Público

Victor é carioca e cresceu muito perto do Parque Olímpico. Não poderia estar mais em casa. Além disso, ele já venceu na cidade e é querido pelo público que acompanha o judô. Na disputa por uma medalha olímpica, o apoio da torcida pode fazer diferença a favor do judoca brasileiro.

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Victor teve de evitar baladas e amadurecer na marra

Victor Penalber era uma promessa do judô brasileiro quando um exame em 2008 acusou furosemida, substância ilegal por mascarar outros tipos de doping. Seriam dois anos de suspensão e outros dois até que ele voltasse a competir internacionalmente. O baque foi imediato. Sem poder focar em competições, como resistir às tentações da vida de um adolescente normal?

“Ele tinha 18, 19 anos. Essa época é a da loucura. Eu fiquei muito ligado nas maluquices dele. Quando ele queria aprontar eu falava: ‘vou contigo’”, diz Vinicius Monteiro, amigo de longa data, que se recorda de um momento-limite. “Foi uma competição lá no Sul. Me machuquei uma semana antes, mas já tinha pago tudo. A gente foi a lazer. No fim da viagem, depois de uma noite maluca, lembro que a gente falou: ‘Já deu. Acho que agora é a hora de focar”, lembra o amigo.

O controle das tentações é, obviamente, só uma das lições que ele tirou do processo. “Ele ficou muito chocado. Tinha vergonha de encarar as pessoas no começo”, conta o pai Jorge. A solução foi mergulhar ainda mais no judô, ajudando no treino dos amigos e treinando todos os dias. Demorou, atrasou, frustrou, puniu... Mas o próprio Victor admite que ter tomado um medicamento para emagrecer sem autorização médica mudou sua vida. Para melhor, como ele mesmo diz:

Eu não sei se eu teria chegado se eu não tivesse aquilo no meu caminho. Faz parte da minha trajetória e me fez evoluir
 

Victor diz que pensava como um "garoto". Agora, até o sexo preocupa

Arquivo pessoal Arquivo pessoal

Mais que um torcedor, pai é olheiro e estrategista

Quando Victor soube do doping, quem estava ao seu lado era o pai, Jorge. No primeiro golpe, nas diversas conquistas e nas lutas mais duras, também. Ao longo do desenvolvimento do filho judoca, ele foi bem além do papel de torcedor especial na beira do tatame. Era um verdadeiro olheiro, que desde a infância filmava as lutas dele e dos rivais para entender como poderia ajudar nas conquistas. O alvo dessa atenção toda agradece:

Às vezes, eu chego em casa e ele está vendo o campeonato do último fim de semana. Até hoje a gente tem uma gaveta enorme com todas as minhas lutas desde os 7 anos de idade

Quem conta é o próprio Victor, que absorveu os ensinamentos e coloca essa preparação tática como um de seus diferenciais. Se hoje isso muda uma luta, imagine aos dez anos de idade? Era a época em que um Holyfield dominava os tatames cariocas. O apelido veio do primeiro técnico, que fez graça quando o pupilo apareceu um dia na academia machucado após uma luta.

“Era a época do Holyfield com o Tyson. Ele chegou e falou: ‘Está com o olho roxo, parecendo o Holyfield’. O Victor gostou e pediu pra gente bordar no quimono”, conta o pai, Jorge, que virou o “seu Holyfield”. O nome era sinônimo de vitória, já que o garoto ganhou títulos brasileiros seguidos antes de fazer 12 anos e não dava chance aos rivais. Ainda criança, mas já trabalhando duro. 
 

Arte UOL
Arquivo pessoal Arquivo pessoal

Amigos de infância ajudam a colocar Victor a caminho da medalha na Rio-16

Só que nem todo esforço do mundo faria ele chegar sozinho a uma medalha olímpica. Pelo contrário. Se o sonhado pódio vier, ele certamente será a construção de muita gente. A começar pelo ajudante de luxo que ganhou há um ano. Melhor amigo de Victor, Marcos Seixas é judoca e deixou seu clube em Minas para ir ao Rio com um único objetivo: ser sparring e parceiro de treinos de Penalber.

“Eu me sinto realizado ajudando o Victor lutando dessa forma. Eu fico brincando que eu e o preparador dele somos a babá dele. Ele esquece o treino, o quimono, o esparadrapo... Ele é bastante distraído com as coisas ao redor”, diz.

O cuidado com o “avoado” Victor não é de hoje. O grupo de amigos do judoca cresceu com ele nos tatames. Além de Marcos, a irmã Giulia, Vinicius e Camila estão sempre por perto. “Construímos uma relação muito forte. O Victor e o Vinicius lutavam e eu não queria nem assistir. Falava: ‘Depois vocês me falam o resultado e a gente sai juntos’”, relembra Camila.

O ponto de encontro muitas vezes foi a casa dos Penalber, às vezes acompanhados de todos os pais, que também viraram amigos entre si. A união foi forjada em jogos de futebol com Victor defendendo as cores do Botafogo e em pizzadas que transformavam rivais de tatame em parceiros de garfo. Na Rio-2016, pertinho de casa, todos estarão lá para torcer por ele mais uma vez.
 

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