Carnaval de socos

Vontade de brigar em Salvador levou Robson Conceição, favorito na Rio-16, ao boxe

Gustavo Franceschini Do UOL, em São Paulo
Adriano Vizoni/Folhapress Adriano Vizoni/Folhapress

As promessas que você deve conhecer

Para que você não chegue despreparado à Olimpíada, o UOL Esporte preparou uma série de reportagens que pretende contar mais sobre essas prováveis estrelas. Robson Conceição, um dos melhores boxeadores do mundo na categoria até 60 kg, é o segundo personagem retratado (Isaquias Queiroz, da canoagem, foi o primeiro. Confira aqui).

E você vai se surpreender ao saber do papel do Carnaval de Salvador na formação deste talento. Foi a vontade de brigar na folia que fez ele buscar o boxe, o esporte que mudou sua vida. Foi nos ringues que ele conheceu um amigo para todos os momentos, inclusive os de perrengue. As luvas também o ajudaram a conhecer a mulher Erika, que lhe deu a notícia mais feliz de toda a vida de um jeito inusitado, em pleno Ano-Novo. 

Na Rio-2016, o boxe tem tudo para dar mais um presente a Robson: uma medalha olímpica. 

Por que você deve prestar atenção em Robson

O que fará a diferença na Olimpíada de Robson

Jonathan Ferrey/Getty Images Jonathan Ferrey/Getty Images

Boa estreia

O Rio será a terceira Olimpíada de Robson Conceição, que nunca passou da primeira luta na competição. Nas edições anteriores, a inexperiência pesou contra lutadores da casa. O baiano foi derrotado pelo chinês Li Yang em Pequim-08 e pelo britânico Josh Taylor em Londres-12. Com a torcida a favor, a expectativa é de que ele inverta a situação e tenha um resultado bem melhor.

Boxing Aiba/Divulgação Boxing Aiba/Divulgação

Arbitragem

A avaliação dos juízes é fundamental no boxe, já que na maioria das vezes é ela quem define o vencedor das lutas. Uma das preocupações da seleção é colocar os atletas para viajar durante o ciclo para que os árbitros conheçam os atletas do país. Na visão dos técnicos, às vezes os mais famosos são favorecidos. Hoje, Robson é um dos maiores nomes da categoria.

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Regularidade

Robson terá de fazer quatro lutas ao longo de dez dias (6 a 16 de agosto) se quiser chegar ao sonhado ouro. Além de manter o ritmo de combate para enfrentar os rivais mais poderosos no fim da chave, será importante não se deixar levar pela comoção do público. Vencendo aos poucos, a tendência é que ele gere a expectativa da imprensa e do público por uma medalha.

Arquivo pessoal Arquivo pessoal

Brigar na folia foi o caminho para o boxe

Eu tinha um tio que era muito famoso no bairro. Depois do Carnaval o pessoal ficava comentando: ‘Seu tio Roberto derrubou não sei quantos. Está com a mão inchada de tanto bater’. Eu pensava: ‘Quero brigar que nem ele"

Foi assim, como tantos outros jovens de Salvador, que Robson Conceição começou no boxe. Se para você a festa remete a diversão, cerveja e paquera, na capital mundial da folia não é bem assim. “Tem gente que só faz boxe na época de Carnaval. Aí as academias de boxe da cidade ficavam lotadas”, conta Lino Brito, primeiro técnico do hoje favorito a medalha na Rio-2016. “Meu irmão até hoje vai atrás do Chiclete com Banana para brigar”, completa Márcia, mãe de Robson.

A teoria nunca virou prática. Robson só pulou Carnaval uma vez na vida e passou longe de brigas. Na verdade, a ida para o boxe foi a salvação do “Terror da Boa Vista”, como ele era conhecido pelas confusões que arrumava no bairro em que vivia. Com os professores certos, o baiano aprendeu a canalizar a energia e hoje está a poucas lutas de uma sonhada medalha olímpica.   

Dava golpe no hospital para poder treinar. Dormir? Nem pensar

Reprodução/Facebook Reprodução/Facebook

A amizade que deu força na mudança da Bahia para SP

Não demorou para Robson perceber que o boxe era mais que um passatempo. Os primeiros resultados em Salvador fizeram ele perceber que poderia ser um atleta de ponta, e não mais um brigão de Carnaval. Ajudou muito ter, já no início, um parceiro para a vida toda. Foi de Robson que Robenílson de Jesus, hoje também um candidato a medalha na Rio-2016, levou os primeiros socos em um ringue.

“Quando a gente ia entrar tinha a história de fazer um teste com alguém. E quando eu fui para a academia de Lino, Robson me pegou e me deu um sacode. Ele já estava lutando e eu era novinho. Aí ficou três, quatro meses sem treinar porque ele trabalhava com a vó e não tinha como ir. E eu treinando todo dia, de manhã, tarde e noite. E aí, quando ele voltou eu descontei a porra toda nele”, diz Robenílson, aos risos.

A amizade perseverou. Hoje, Robenílson é padrinho do casamento do amigo com Erika, também boxeadora, e as famílias se unem aos fins de semana em Salvador, quando Robson vai para a cozinha. Tempos de fartura, bem diferentes do que os dois já viveram. O roteiro da dupla sai da Bahia e vai para Santo André-SP, onde a treinava a seleção brasileira de boxe. Novatos, Robson e Robenílson enfrentaram a nova casa com saudade, suor, tédio e bem pouco dinheiro. 

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Família com Erika ficou completa em Ano-Novo na Bahia

Robson já teve seus 15 minutos de fama. Em 2011, durante o Pan de Guadalajara, ele pediu a namorada Érika Mattos em casamento durante uma entrevista à Record. Também boxeadora, ela viu tudo pela TV, já que não tinha se classificado para a competição. Era o passo seguinte de uma relação que havia começado em 2005.

O namoro sobreviveu à distância. Quando Robson mudou para São Paulo, foi Érika quem deu força para que ele superasse a distância e a saudade. Hoje eles são pais de Sophia, a filha de um ano que se anunciou para o casal de um jeito curioso.

“A gente estava passeando. Eu estou andando, daqui a pouco viro para o lado e cadê ela? Olho para o chão e tá ela no chão desmaiada, quase debaixo do caminhão. Aí corre levar para o hospital”, conta Robson. O detalhe? Era 31 de dezembro e a família toda se preparava para comemorar o Ano-Novo. “O carro estava longe, a gente estava em uma ilha. Um rapaz que deu socorro. A gente passou a noite toda no hospital, mas foi uma boa notícia, né?”, diz a mãe do boxeador, hoje a avó de Sophia. 

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