Visões olímpicas

Sobre Marta, Janis Joplin e outras gurias geniais

Bruno Kelly/Reuters
Marta é um dos destaques femininos do Brasil na RIo-2016 imagem: Bruno Kelly/Reuters
Visões Olímpicas

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Durante todo o período da Rio-2016, o UOL Olimpíadas publicará colunas especiais sobre os Jogos assinadas por personalidades relevantes, tais como artistas, esportistas, empresários, dirigentes e influenciadores. Os textos de cada um dos autores não refletem, necessariamente, a opinião do UOL.

Beto Bruno*

Colaboração para o UOL

Existe uma brincadeira no meio do rock usada quando alguém da banda não está se empenhando tanto, quando não está acompanhando o resto do grupo. Nessas situações, por vezes usam o famoso jargão, ‘Porra, toca igual homem!’. Pensando bem, não sei direito o que querem dizer com isso. Pra mostrar o quanto essa troça está equivocada, vou citar alguns exemplos.

Janis Joplin. Canta mais que qualquer bluesman, não deve nada pra ninguém.

Patti Smith. Poderia com certeza estar no meio de Keith Richards e de Ronnie Wood, em cima do palco com os Stones.

Rita Lee. Gravou os melhores discos da história do rock brasileiro, seja com os Mutantes, com o Tutti Frutti ou depois, sozinha.

Cássia Eller. Preciso dizer alguma coisa da Cássia Eller? Fora o vozeirão rocker, tem a atitude rocker.

Francisco Cepeda/AGNews
Pitty, um dos expoentes do rock brasileiro atual imagem: Francisco Cepeda/AGNews
E mais recentemente, da minha geração, a Pitty. Já dividi o palco com ela e fiquei pequeno. Em todas às vezes (essa baiana é porreta!).

Acompanhando a Olimpíada do Rio, me deparei com uma situação curiosa, que lembrou a piadinha de mau gosto do rock. Só que ao contrário. Gritos de ‘Marta, Marta, Marta’ foram lançados pra seleção masculina de futebol durante as atuações decepcionantes do time do Neymar. Era como se gritassem, ‘Joguem igual mulher!’

Quando ouço falarem da importância do ouro olímpico pro futebol dos homens (a única conquista que falta), na hora penso na Marta. Indiscutivelmente a melhor jogadora de todos os tempos, à frente da seleção feminina há anos, Marta nunca ganhou uma Olimpíada. E sabemos bem da história difícil das atletas nacionais.

Contra todas as adversidades, ainda brigamos com Alemanha, Estados Unidos e outras nascidas aonde a categoria é levada a sério e tem o incentivo que merece - engraçado dizerem que somos o país do futebol. Imagine então a vontade que as brasileiras (elas, sim) têm de ganhar a primeira medalha de ouro olímpica. E ainda por cima dentro de casa.

A situação do vôlei feminino é diferente. A equipe vive uma hegemonia, venceu as duas últimas Olimpíadas. Agora, estamos com o time tão forte quanto nos últimos anos. Dani Lins, Fê Garay, jogam com uma raça descomunal. Pra essa geração só falta subir no lugar mais alto do pódio em solo brasileiro. Ao que tudo indica, vai acontecer.

Karime Xavier / Folhapress
Beto Bruno (segundo da dir. para a esq.) é integrante da banda Cachorro Grande imagem: Karime Xavier / Folhapress
Outro caso especial é o do handebol feminino. As gurias foram campeãs mundiais em 2013 e até então, ninguém esperava nada delas. Imagine só, fazer a dobradinha com uma medalha no Brasil!

Não quero dizer que só estou com as mulheres nos Jogos do Rio. Assim como no rock, aprecio o talento indiscriminadamente. Por ora, porém, toquem como quiserem. Mas joguem como as gurias.

* Doente pelo Colorado, maluco por vôlei, Beto Bruno (Roberto Bruno da Silva Justi, 42 anos) é desde 1999 o vocalista da banda Cachorro Grande. Ele é a voz dos sucessos Você Não Sabe o Que Perdeu, Lunático, Sexperienced e da maioria das faixas do recém-lançado disco Electromod.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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