Coluna

Roberto Salim

Tudo que Alexander Russo quer é correr pela mãe na final dos 4x400 m

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Velocista brasileiro Alexander Russo cumpriu profecia olímpica de sua mãe imagem: Reprodução/Facebook
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Roberto Salim

Roberto Salim, repórter da Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, O Globo, Gazeta Esportiva, Última Hora, Revista Placar, ESPN Brasil. Cobriu as Olimpíadas de Barcelona, Atlanta, Sydney, Athenas, Pequim e Londres. Na ESPN Brasil realizou mais de 200 documentários no programa 'Histórias do Esporte', ganhando o Prêmio Embratel com a série 'Brasil Futebol Clube' e o Prêmio Vladimir Herzog.

Colunista do UOL

Dentro da pista do Engenhão, ele nem imaginava que na arquibancada, sentada numa cadeira de rodas, estava Geisi, uma mulher movida a desafios e fé. Ela é mãe do atleta Alexander Russo, sofre de um mal degenerativo, que vai impedindo seus movimentos e que a leva constantemente ao hospital.

"Os médicos já falaram que eu não sairia com vida das internações umas oito vezes e já venho desafiando a morte há anos" – contou Geisi, na primeira vez que fui entrevistar seu filho, em Boituva, a 105 quilômetros da capital paulista. Era um desses jovens fenômenos que surgem no esporte nacional e tinha o apelido de Papa-Léguas. "Eu estou falando a você: ele vai para a Olimpíada do Rio".
 
E veio mesmo.
 
E ela junto na arquibancada, ao lado do marido, sem que Alexander soubesse da presença da torcedora especial, acostumada a vencer todo tipo de dificuldade.
 
"Quando casei o médico disse que eu jamais poderia engravidar... e tive três filhos".
 
Alexander, aos 22 anos, era o segundo reserva da equipe do revezamento 4x400 metros. E não esperava correr.
 
"Na verdade, nem esperava me classificar no Troféu Brasil, mas minha mãe falava:
 
"Você vai para a Olimpíada".
 
Eu respondia: "Mãe, eu sou muito jovem ainda, não vai dar."
 
E ela insistia: "Você vai conseguir o índice". E eu consegui. Depois: "Você vai correr na Olimpíada".
 
E eu: "Mãe, eu sou o reserva do reserva."
 
"Não importa, você vai correr".
 
Um dos atletas, o Lucas, se machucou em um dos treinos. E o outro corredor teve uma atitude de dignidade olímpica.
 
"Um dos corredores do time estava escalado pelo técnico Evandro Lazari, mas chegou perto dele e disse: professor, o Alexander está melhor preparado que eu".
 
E Alexander foi o segundo homem brasileiro a entrar na pista no revezamento 4 x 400m – numa formação que nunca disputou uma prova.
 
"Era uma posição estratégica, não podia deixar os caras abrirem vantagem e corri o que podia e o que não podia, os primeiros 200 metros foram inacreditáveis, e meu técnico cronometrou 44 segundos alto, marca fantástica, pois meu melhor resultado é 46s15".
 
Quando a corrida acabou, os brasileiros não estavam entre os classificados. Mas Geisi estava alegre como nunca. Seu menino tinha cumprido sua profecia. "Essa mulher tem uma fé absurda", contava Alexander.
 
"Eu não sabia que minha mãe estava lá no estádio e quando estávamos saindo da pista, recebemos a notícia de que com a eliminação de dois países nossa equipe estava classificada para a final... aí sentimos uma emoção inacreditável: vimos que estávamos fazendo história, pois desde 1992, em Barcelona, nossa equipe não passava para a finalíssima".
 
Mais: o tempo de 3'00''40 é o segundo melhor do Brasil.
 
"Neste sábado, pode ter certeza de que nós vamos correr abaixo de 3 minutos e vamos rasgar a pista".
 
Quando dava a entrevista, Alexander Russo ligou para o seu pai. Queria contar detalhes da corrida para Geisi, mas foi informado de que ela sonhava.
 
"Filho, fazia três dias que sua mãe não dormia!"

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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