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Roberto Salim

"Água foi ficando verde até virar notícia", diz funcionária do Maria Lenk

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Roberto Salim

Roberto Salim, repórter da Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, O Globo, Gazeta Esportiva, Última Hora, Revista Placar, ESPN Brasil. Cobriu as Olimpíadas de Barcelona, Atlanta, Sydney, Athenas, Pequim e Londres. Na ESPN Brasil realizou mais de 200 documentários no programa 'Histórias do Esporte', ganhando o Prêmio Embratel com a série 'Brasil Futebol Clube' e o Prêmio Vladimir Herzog.

Colunista do UOL

Quando os jogadores de polo aquático de Japão e Austrália saíram da piscina correndo para lavar os olhos que ardiam, ficou evidente no Parque Aquático Maria Lenk que havia alguma coisa errada com a piscina olímpica.

“A água ainda não estava verde, mas todos saíram para lavar o rosto”, conta uma funcionária que atua no local. “Daí em diante a água foi ficando verde, verde, até chegar ao ponto em que chegou, sendo matéria no Jornal Nacional”.

Obviamente sem poder se identificar, ela conta que houve erros básicos no tratamento da água.

“Aqui no Brasil as piscinas são azuis como em todo lugar do mundo, mas de agora em diante vai ser difícil algum estrangeiro acreditar nisso...”

Ela que acompanha há muitos anos a modalidade de saltos ornamentais e inclusive foi atleta, garante que nunca viveu uma situação dessas: “Nunca tinha visto e olha que competi durante muito tempo... mas pelo menos nos garantiram que a água não faz mal à pele ou a saúde”.

Na sexta passada, o tratamento foi realizado com o aumento gradativo do PH. “Ele baixou rapidamente e a água ficou verde. Já clareou bastante e já não parece um pântano”.

Mais do que a água verde, o que chocou saltadores e árbitros foi uma declaração de alguns dirigentes insinuando que muita gente urina na água.

“Ele falou que muita gente fez xixi e isso realmente não pegou bem”.

Para o biólogo Mário Moscatelli, um verdadeiro guardião das águas do Rio de Janeiro, a situação é muito pior.

”Qualquer pessoa que tem uma piscina na varanda sabe que a chuva traz alga... e essas algas se multiplicam... e se houvesse uma medição adequada a água nunca teria ficado verde. E também acho que essa história de urina dos atletas é irreal, vai mijar assim no raio que o parta!”.

Para o polêmico biólogo o xixi não é o problema maior das águas olímpicas de uma maneira geral:

”Muitos lugares usados nas competições são um verdadeiro valão de esgoto. Na baía da Guanabara não fizeram nada até agora e não vão fazer. As duas margens do Parque Olímpico estão infestadas de merda. E a única obra que talvez tenha trazido alguma melhora seja na Marina da Glória, mas ainda é preciso uma análise melhor. Nosso sistema lagunar está podre exalando metano e gás sulfídrico por tempo indeterminado.”

Segundo Moscatelli, a Olimpíada seria a grande oportunidade para que as autoridades públicas trabalhassem sério:

”Houve momentos em que acreditei que isso aconteceria, mas infelizmente eu estava errado. E eu deixo uma pergunta no ar: o que falta para o Ministério Público Federal enquadrar os delinqüentes governamentais, de foro privilegiado, que são os responsáveis pelo que acontece há mais de 20 anos na baía da Guanabara?”

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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