Sonhos e emoções: o dia dos pais para quem vibra com o filho olímpico
O dia dos pais brasileiros com filhos olímpicos tem todo tipo de emoção. Marcos, que foi atleta, está orgulhoso de seu filho Hugo Calderano, pelo que fez no tênis de mesa. Índio, que tem uma oficina de bicicleta no quintal de sua casa em Soledade, na Paraíba, está preocupado com o caso de doping que atingiu seu filho Bozó, da equipe brasileira de ciclismo.
Seu Archimedes deve estar pensando no futuro de seu Zanetti de ouro (nas argolas em 2012), e o que ainda vai inventar em sua oficina de serralheiro para ajudar as crianças da região do ABC a praticar o esporte. Já no bairro de Paciência, periferia do Rio de Janeiro, o pedreiro Genário está na expectativa do revezamento 4 x 100 metros feminino e na prova dos 200 metros, desta segunda-feira. Afinal, sua filha Vitória Rosa vai correr pelo Brasil.
“Por que ela se chama Vitória? Porque aqui é um lugar pobre, sem recursos e minha mulher começou a sentir as dores do parto de madrugada. Eu não tinha carro, nem os vizinhos, saí feito louco pelas ruas e vinha passando um caminhão. Convenci o motorista e levamos minha mulher na boleia. Não deu para chegar ao hospital, eu mesmo fiz o parto”, relembra emocionado, sempre que conta essa história.
“Foi uma Vitória da nossa família. Daí o nome”. No meio das outras cinco filhas e da esposa Sônia, Genário se sente o tal: “Já escutou do bendito é o fruto entre as mulheres? Sou eu?”. E o presente do dia dos pais? “O presente maior que recebo é acordar todo dia e ter a vida renovada”, diz ele com orgulho.
Nesta segunda, ele vai acordar cedinho e vai para o Engenhão: “Vou eu e Sônia, ganhei dois ingressos”.
Os pais brasileiros tem sempre para quem torcer e o que contar. Seu Francisco, pai de Dani Piedade, do handebol, motivou todo o grupo quatro anos atrás , quando enviou uma carta à sua filha em Londres. Agora, espera que o time avance até a finalíssima.
“Já estamos classificados, mas vai ser bom bater Montenegro”, dizia ele neste domingo, antes de entrar no ginásio para ver o time de sua filha ganhar por 29 a 23.
Todo pai se emociona. Todos queriam estar ao lado de seus meninos ou meninas. Uns conseguem, como Nilsinho, pai da jogadora Gabi, da seleção de pólo-aquático: “Eu estava preocupado com a repercussão do soco que minha filha deu na jogadora da Itália, mas a italiana bateu duas vezes nela, antes da reação”.
Eles sofrem, às vezes por não poder comprar ingresso, ou por morar longe do Rio de Janeiro. Outros já partiram, mas os filhos os carregam em pensamento e ensinamentos, como o velejador Jorge Zarif, que leva nas regatas da Classe Finn até alho para espantar mal-olhado, como o velho Zarif ensinou.
Mas tem um paizão do atletismo nacional que estava junto de seus dois atletas olímpicos: Altobeli Silva e Flávia Maria de Lima. Ele é um dos nomes mais respeitados do mundo das pistas. Estava com a equipe nacional no Campo dos Afonsos há duas semanas, quando discutiu com outro técnico e acabou passando mal. E por recomendação médica foi fazer exames em Manaus, onde mora hoje.
“Na hora certa eu falo o que aconteceu”.
O atletismo brasileiro é cheio de rivalidades e mal entendidos. Houvesse união muitos erros que se refletem nos atletas seriam evitados.
“Fiquei muito nervoso, não passei bem. Com medo de consequências, o médico da seleção pediu que eu retornasse a Manaus para fazer exames. Estou indo a contragosto... e só retorno com orientação médica”.
Mesmo sem retornar, deixou todas as previsões do que pode acontecer. “O Altobeli está bem treinado. Tem condições de ir à final. Deve correr abaixo de 8min20s, o que ainda não é resultado para ganhar dos quenianos, mas você vai ver que ele vai fazer de tudo para surpreender”.
No caso de Flávia, apesar de ter enfrentado problemas médicos na fase de preparação, ele também aposta que ela chega até a final:
”A decisão será um pouco mais dura, principalmente porque terá duas candidatas fora de série correndo os 800 metros”.
O técnico em questão é Luiz Alberto Oliveira, simplesmente o homem que vendeu seu velho carro, jogou tudo para o alto e foi com Joaquim Cruz para os Estados Unidos atrás de um sonho na década de 80. Foi mais que um pai. Foi técnico de um campeão olímpico.