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Roberto Salim

Vovô Antônio é voluntário dos Jogos para ficar pertinho do neto Calderano

Lá no fundo, no centro da foto, está o vovô Antônio
Divulgação
Roberto Salim

Roberto Salim, repórter da Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, O Globo, Gazeta Esportiva, Última Hora, Revista Placar, ESPN Brasil. Cobriu as Olimpíadas de Barcelona, Atlanta, Sydney, Athenas, Pequim e Londres. Na ESPN Brasil realizou mais de 200 documentários no programa 'Histórias do Esporte', ganhando o Prêmio Embratel com a série 'Brasil Futebol Clube' e o Prêmio Vladimir Herzog.

Colunista do UOL

O voluntário Antônio Araújo Borges tirou o seu uniforme exatamente as quatro horas da tarde. Saiu do ginásio do Riocentro, pôs a roupa de torcedor, pegou o ingresso com sua filha e entrou de novo no mesmo lugar, no mesmo salão, para se transformar no vovô Antônio e assistir ao jogo de seu neto Hugo Calderano.

“Com ele tem de ser tudo direitinho”, explicou a filha Elisa, mãe do novo fenômeno do tênis de mesa do Brasil, que fez história nesta Olimpíada ao chegar onde nenhum outro brasileiro tinha chegado.

“Eu não podia ficar lá dentro com a roupa de voluntário e torcer para o meu neto... é uma coisa de cada vez”, defendeu-se vovô Antônio, primeiro professor de Educação Física de uma família que tem o esporte nas veias.

“Ele teve duas filhas, tentou nos levar para uma modalidade no alto nível, mas não deu muito certo. Somos professoras também, mas quando o meu filho Hugo nasceu, meu pai se realizou, pois o menino sempre mostrou queda para o esporte”.

Hugo Calderano não é só um excelente jogador de tênis de mesa. Ainda pequeno jogou vôlei e quase desistiu das raquetes. Também foi recordista carioca de algumas provas do atletismo. Gosta ainda de basquete e tem jeito para o futebol.

“Quem pôs a primeira raquete nas mãos dele? Não, não fui eu”, revela vovô Antônio. “Essa ideia foi do Marcos, pai dele que além de bom jogador de “pingue-pongue” também foi atleta de verdade: decatleta e maratonista”.

O técnico Ricardo Cebola, do Fluminense, deu continuidade à carreira iniciada em casa pelo menino. E logo Hugo ganhou o mundo. Chegou à seleção brasileira, foi aperfeiçoado pelo cubano Paco em São Caetano do Sul, até ganhar o mundo.

Quando treinava no ABC, em São Paulo, ficou muito sozinho no apartamento em que vivia e então solicitou a companhia de seu parceiro de 73 anos.

“Acho que o ajudei com minha presença, mas do que ele gostava mesmo era do filé mignon com arroz a piemontesa que, modéstia a parte, fica muito bom quando eu faço”.

Onde o seu neto vai chegar, o vovô Antônio ainda não sabe. Certeza mesmo ele tem de que amanhã estará bem cedinho no ginásio onde está sendo disputado o tênis de mesa olímpico. Com sua roupa de voluntários e funções bem definidas: “Se for para torcer, saio e compro meu ingresso de novo”.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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