Coluna

Roberto Salim

Nem o chefe acreditava no sucesso de Adriana no boxe. Adivinha o resultado?

Rio 2016
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Roberto Salim

Roberto Salim, repórter da Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, O Globo, Gazeta Esportiva, Última Hora, Revista Placar, ESPN Brasil. Cobriu as Olimpíadas de Barcelona, Atlanta, Sydney, Athenas, Pequim e Londres. Na ESPN Brasil realizou mais de 200 documentários no programa 'Histórias do Esporte', ganhando o Prêmio Embratel com a série 'Brasil Futebol Clube' e o Prêmio Vladimir Herzog.

Colunista do UOL

A vida de Adriana Araújo nunca foi fácil. Teve uma época em que lutava pela mãe, dona Edyr, que estava muito doente, de cama, na periferia de Salvador. A vida de pugilista não é fácil, apesar do carinho que seu técnico sempre lhe dispensou. E quando foi para a Olimpíada de Londres carregou junto consigo a desconfiança do presidente da Confederação Brasileira de Pugilismo Mauro Silva: “Ela não tem condições de lutar por medalha”.

Lutou, ganhou a medalha de bronze e enfrentou o presidente ainda na capital inglesa. Pagou caro por isso e ficou até recentemente fora da equipe olímpica. Agora está de volta, preparada como nunca. Mas como sua vida é árdua, um pesadelo tem rondado seus pensamentos nos últimos tempos. Pesadelo que tem nome, sobrenome e braços fortes: a campeão olímpica da categoria até 60 quilos, a irlandesa peso leve Katie Taylor, 29 anos, fã de Rocky Marciano e Sugar Ray Leonard.

“Não temos medo de ninguém, mesmo porque não sabemos quem será a primeira adversária, no boxe as lutas são por sorteio” – explica o técnico Luiz Carlos Dórea.

“Quando subir ao ringue, vou fazer o meu melhor, não importa quem seja a adversária, mesmo porque não existe ninguém invencível”, garante a baiana, que enfrentou a “Bomba Irlandesa” no Campeonato Mundial de 2010 e perdeu por 16 a 12.

Claro que a irlandesa preocupa: ela é o ídolo de seu país, troca golpes fortes e tem fôlego de sete gatas.

“Mas a Adriana, a Drica, está preparada como nunca esteve”, assegura o treinador, que conhece a lutadora desde que  chegou ainda menina na Academia Champion, na Ladeira do Ypiranga, na Cidade Nova. Na época, Adriana era atacante do time de futebol do Vitória e não pensava em calçar luvas.

“Chegou meio envergonhada, mas logo foi se soltando”, conta Luiz Dórea, que é o técnico de 10 entre 10 pugilistas baianos que atingem o estrelato nos ringues.

Foi assim com Popó e com todos os baianos que chegam aos Jogos Olímpicos.

“Chamo a Drica de minha filha, essa academia é a minha família”, orgulha-se Dórea, que herdou o terreno de sua mãe, onde funcionava uma escola. A academia foi criada em março de 1990 e cresceu nos últimos tempos, pois além do boxe, ele se ligou ao MMA. Mas um de seus segredos desde o tempo de lutador continua lá: o ringue pequeno, bem menor que o normal, onde o lutador aprende a ter intensidade de golpes e a não fugir ao combate.

“Neste ringue a gente estimula a velocidade e a percepção visual”.

Todo pugilista orientado por Dórea quase sempre é um brigador.

“Preparamos a Adriana para a medalha olímpica, seja quem for a adversária”.

Ele sabe que normalmente as rivais procuram fugir do corpo a corpo com a baiana, que pega forte.

“São lutadoras que procuraram se mover o tempo todo e impedir que a Drica encurte a distância”.

Aos 34 anos, ela está em ótima forma física e técnica.

“O principal adversário do atleta é ele mesmo e o fato de lutar em casa às vezes pode prejudicar. Mas não a Adriana, ela está madura, pronta para por em prática tudo o que treinou”.

O técnico só não subirá ao corner com sua lutadora, porque não pertence à comissão técnica da seleção nacional. Mas estará no ginásio, gritando e torcendo por sua campeã.

“Minhas adversárias não têm nome... Minha pior adversária é a minha própria consciência”, sentencia a menina que sobe ao ringue dia 12, para lutar em memória de Dona Edyr.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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