Coluna

Roberto Salim

Bete lavou roupa, levantou peso pelo Brasil e hoje chora por suas crianças

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Roberto Salim

Roberto Salim, repórter da Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, O Globo, Gazeta Esportiva, Última Hora, Revista Placar, ESPN Brasil. Cobriu as Olimpíadas de Barcelona, Atlanta, Sydney, Athenas, Pequim e Londres. Na ESPN Brasil realizou mais de 200 documentários no programa 'Histórias do Esporte', ganhando o Prêmio Embratel com a série 'Brasil Futebol Clube' e o Prêmio Vladimir Herzog.

Colunista do UOL

Maria Elisabete Jorge sempre foi trabalhadora e corajosa.

Quem a vê andando de bicicleta pelas ladeiras de Viçosa sabe do que ela é capaz.

Nos tempos de lavadeira, não tinha medo do tanque: lavava e passava roupa para os estudantes.

Nos tempos de atleta, não tinha medo dos treinamentos do engenheiro e professor Davi Monteiro Gomez– foi a primeira levantadora de peso do país a disputar uma olimpíada.

“Eu comia olho de boi, porque me ensinaram que tinha fortificante natural”, relembra Bete do peso, que corria os açougues de sua cidade na época de competidora.

Pois essa Bete corajosa e decidida, que foi a Sydney competir já com 43 anos, tem um receio sim: que algum escorpião morda as crianças que treinam com ela, nos espaço destinado ao levantamento de peso na Associação Esportiva de Viçosa.

“Antes tinha mais mato, agora está melhor, mas eu ainda tenho medo. O último escorpião apareceu em março”.

A área pertence a prefeitura e os treinamentos são a céu aberto. “Prometeram melhorias, mas não cumpriram”.

Na Universidade Federal há um espaço para o levantamento de peso e renovaram tudo para que atletas da Índia, Egito e Líbano treinem para os jogos do Rio. “Mas para minhas crianças não deram nada”, queixa-se Bete, que é proibida de treinar sua turma no tablado onde construiu sua carreira.

Cerca de 32 alunos procuram aprender os segredos da modalidade com a campeã, que durante a Olimpíada do Rio de Janeiro vai trabalhar como árbitro.

“Lembro de minha participação em Sydney, não tive tempo de me adaptar às barras modernas que usavam lá e minhas mãos sangraram”.

Bete conta com orgulho.

O mesmo que exibe em seu rosto ao revelar que está finalmente cursando Educação Física. Beirando os 60 anos, a mineira forte e decidida inicia o sexto período do curso após a Olimpíada.

“Meu sonho? Ah, é levar uma das meninas para uma competição de alto nível”.

No mês de novembro, Bárbara Almeida Cruz vai disputar o Campeonato Sul-americano sub-15, na Bolívia.

Quem sabe em 2024 esteja ao lado da professora Bete buscando um lugar no pódio. 

 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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