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Atletas gordos da Rio-2016 nos fazem quebrar preconceitos de saúde e beleza

Ross Kinnaird/Getty Images
Teresa Almeida, a Bá, goleira de Angola nos Jogos Olímpicos do Rio imagem: Ross Kinnaird/Getty Images

Nana Queiroz* Colaboração para o UOL

O desfile de talentos Olímpicos dos últimos dias, mas principalmente desta sexta-feira (12), não foi um festival apenas de músculos, mas também de barriguinhas, cinturas largas e homens com peitinhos. Aceite: isso também são corpos atléticos e isso também é saúde. Dos lutadores com mais de 100 kg das disputas de judô de hoje, passando pela goleira do handebol de Angola, Ba, e até o azarão etíope dos 100 m livres - ninguém fez feio.

Duvida? Ba, com seus 98 kg distribuídos em apenas 1,70m de altura, fez defesas admiráveis nas duas vitórias até aqui e segurou Angola na frente do forte time brasileiro de handebol por boa parte do jogo de hoje. No judô, poucos magrinhos fizeram tão bonito quanto a coleção de ippons de Rafael Silva - e ele só perdeu para o melhor do mundo, terminando com o bronze. E mesmo Robel Kiros Habte, que chegou em último nos 100 m livres da natação, ficou apenas 14 segundos atrás dos concorrentes - e se você acha isso mico, te desafio a fazer o mesmo tempo! Eu, que sou mais ou menos magra, não consigo.

É aí que nos deparamos com um problema da dita "sabedoria popular": o conceito de saúde que temos na nossa cabeça é impregnado de preconceitos e um tanto de aversão a gordos (o que chamamos gordofobia). Médicos estão cansados de falar que gordura abdominal não necessariamente é sinônimo de problemas físicos e muito menos de preguiça.

O professor do departamento de Ciências do Exercício da Universidade da Carolina do Sul (EUA), Steven Blair, por exemplo, defendeu em muitas de suas palestras que está cheio de magro por aí com saúde frágil e muitos gordos dão banho neles nos exames anuais. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda 150 minutos de atividade física moderada por semana - tem gente que faz isso em duas visitas à academia - e é perfeitamente possível sustentar essa média sem perder a barriguinha.

Mesmo assim, durante a campanha #QueroTreinarEmPaz que a Revista AzMina faz em parceria com UOL e Think Olga, recebemos dezenas de depoimentos de mulheres gordas que são estigmatizadas e hostilizadas ao chegar ao local do treino. São olhares maldosos, risinhos baixos, mas também piadas em voz alta na torcida. Além desse tipo de bullying nos tornar pessoas piores, ele deixa nossa ignorância flagrante. Ou mudamos esse comportamento ou continuaremos passando vergonha por aí.

* Nana Queiroz é diretora executiva da Revista AzMina (Facebook.com/revistaazmina), autora do livro "Presos Que Menstruam" e roteirista da série de mesmo nome em produção. Também é criadora do protesto "Eu Não Mereço Ser Estuprada". É jornalista pela USP e especialista em Relações Internacionais pela UnB.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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