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Yelena Isinbayeva: contra os gays e vítima de machismo na Rússia

REUTERS/Maxim Shemetov
A saltadora Yelena Isinbayeva também comparece ao sorteio das Eliminatórias da Copa do Mundo de 2018, na Rússia imagem: REUTERS/Maxim Shemetov

Colaboração para o UOL

Por Letícia Bahia*

 
A Federação Internacional de Atletismo decide na sexta se a Rússia participará das Olimpíadas do Rio. A suspensão aconteceu depois que Agência Mundial Antidoping apontou um esquema de doping no país. Na linha de frente do contra-ataque russo está Yelena Isinbayeva, maior talento feminino no salto com vara, com dois ouros olímpicos e três títulos mundiais. Isimbayeva testou negativo em todos os exames anti-doping de sua carreira. Nem por isso, porém, esteve longe de polêmicas. 
 
No mundial de atletismo de Moscou, em 2013, algumas competidoras pintaram as unhas com as cores do arco-íris para protestar contra a lei russa que proibia informar menores de idade sobre a homossexualidade. Yelena considerou o protesto ofensivo: “É desrespeitoso com nossos cidadãos. Nunca tivemos esses problemas na Rússia, e não queremos ter no futuro”. 
 
Se a homofobia da atleta virou notícia nos jornais do mundo todo, o machismo de que Isimbayeva é vítima não parece espantar ninguém. Apesar de ter sido a primeira mulher a saltar acima dos 5 metros, a medalhista é mais conhecida pelos olhos verdes. Chamada de “musa do atletismo”, ela coleciona reportagens em que suas façanhas parecem ser secundárias.
 
Mãe de Eva, nascida em 2014, Yelena retomou os treinos em 2015 determinada a conquistar mais um feito: um ouro olímpico posterior à gravidez. Mas, para isso, ela precisa que a decisão de sexta seja favorável à Rússia. “Eu trabalhei duro para voltar depois de dar à luz. Um ouro olímpico no Rio pode ser uma enorme conquista para as mulheres”, desabafou. 
 
Curioso é a revolta da competidora, que declarou que a sanção à Rússia fere seus “direitos humanos” e prometeu buscar justiça nos tribunais internacionais. Poderia ser o momento de usar sua injustiça para trazer luz à de outros. Ao invés disso, Isimbayeva opta por fazer uso seletivo das leis internacionais que buscam a igualdade para todos. 
 
Sua trajetória estelar é referência para muitas garotas e ajuda a desconstruir a falácia de que esporte é “coisa de menino”. Infelizmente, ela escolheu incluir em sua biografia a mancha da homofobia. Mas nunca é tarde.
 
Yelena, que você continue mostrando ao mundo que seus saltos são muito mais incríveis que seus olhos verdes. Que possa buscar sua medalha de ouro no final do arco-íris, e que você se torne mais uma na luta para que o arco-íris russo não precise mais se esconder atrás das nuvens escuras da homofobia.
 
* Letícia Bahia é psicóloga e autora do blog "Reflexões de uma Lagarta", onde escreve sobre Direitos Humanos com foco em questões de gênero e sexualidade. É diretora de relações institucionais da revista AzMina.
 

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