Brasil encerrou participação no salto com vara com erro na execução, não na estratégia

Rui Barboza Neto

Rui Barboza Neto

A qualificação do salto com vara masculino foi nesta quarta-feira. Os Jogos já mostraram que esta prova apresenta dificuldades em Londres. Agora foi a vez dos homens desafiarem aquele corredor de salto, os postes, o sarrafo, o vento e a grande altura que atingiram. Assim como as meninas sofreram pra realizar a prova, eles também tiveram dificuldades.

Mais uma vez essa prova não foi boa para nós, brasileiros. O atleta Fábio Gomes da Silva não conseguiu atingir a altura inicial de 5,50 m que ele pediu. Dessa forma, terminou a competição sem marca alguma. Muitos acham que ele teve um erro de escolha da altura inicial. Isso porque a prova teve início com o sarrafo a 5,20 m de altura. A próxima altura a ser vencida pelos concorrentes foi de 5,35 m. Só então o sarrafo foi para 5,50 m. Com isso, muitos questionaram o porquê dele não iniciar com alturas mais baixas.

Vamos lá. Passar 5,20 m ou 5,35 m não significaria nada para Fábio. Mesmo que ele tivesse superado essas alturas, ainda assim teria que superar a marca de 5,50 m. Resumindo, 5,35 m ou sem marca, como ele ficou, custaria sua saída dos Jogos. Fábio tem como melhor marca da carreira 5,80 m e neste ano já atingiu 5,70 m. Apesar de ter superado altura maiores do que a altura inicial, não é só isso que credencia sua estratégia de escolha. Já disse em alguns comentários durante a prova do salto com vara que esta tem o maior tempo de aquecimento entre as provas do atletismo.

Os atletas entram na pista, em média, uma hora antes para realizar o aquecimento. Nesse tempo, o atleta tira sua marca, ou seja, mede uma distância do seu ponto de partida até o ponto de onde salta. Depois ele testa essa marca para fazer os devidos ajustes, caso necessite. Arrumado isso, ele começa a fazer o salto completo.

O sarrafo é posto inicialmente numa altura baixa e conforme os atletas vão solicitando, esta altura é elevada. Normalmente, antes de decidirem a altura inicial, os atletas testam a mesma no aquecimento. Foi o caso de Fábio. Então não houve um erro na estratégia, e sim na execução da corrida e do salto durante a prova. Os erros acometem diversos atletas. Basta competir para estar sujeito a eles. Além de Fábio, mais sete ficaram sem marca. 

Classificaram-se para a final 14 atletas, com um favorito. O francês Renaud Lavillenie venceu quase todas as provas que disputou este ano. Lidera o ranking mundial e deve querer se aproveitar deste bom momento para conquistar sua primeira medalha olímpica. Na qualificação não precisou saltar mais que 5,65 m. Mas não será tão fácil assim. Brad Walker, dos EUA, campeão mundial em Osaka 2007, tem um salto melhor que o do francês na carreira e também se classificou para a final. Apesar de ser o quarto colocado no ranking de 2012, é um atleta experiente e pode fazer frente ao francês.

Assim como no feminino, a Alemanha tem ótimos competidores e conseguiu três representantes entre os 14 finalistas. Björn Otto, 2ª melhor marca do ano, teve seu auge em 2007. Nos anos que se sucederam teve uma queda de desempenho e neste ano voltou a ficar em grande forma, apresentando seu melhor salto da carreira. Aliando sua grande performance atual com sua experiência (o atleta tem quase 35 anos) é um nome que pode atrapalhar o sonho de Lavillenie. Malte Mohr, outro alemão classificado, está apenas um centímetro atrás de seu compatriota no ranking mundial, em terceiro. Essa mínima diferença o credencia para a disputa ao pódio. Pra fechar o trio alemão, temos o talentoso Raphael Holzdeppe, que não deve incomodar os favoritos, mas vindo deste país com tradição na prova é bom ficar atento com ele.

O atual campeão olímpico, Steven Hooker, da Austrália, não apresenta uma boa marca em 2012. Mas seu precioso título não pode ser esquecido e deve-se ter atenção com ele. Mesmo não sendo cotado para um pódio, não seria surpresa, principalmente com as adversidades que se apresentaram em Londres, ele ganhar uma medalha. Também classificado, é mais uma atração nesta prova, pois defenderá seu título. A escola russa do salto com vara tem dois representantes nesta final e um deles merece atenção. Evgeniy Lukyanenko, prata em Pequim-08. Não tem uma boa marca neste ano, mas é um dos poucos que já alcançou uma altura maior que seis metros.

A final do salto com vara masculino ocorre nesta sexta, às 15h00. Vale a ressalva que esta edição do atletismo nos Jogos de Londres está derrubando muitos favoritos de várias provas (Bekele - 10.000 m rasos, Isinbayeva - salto com vara, Irving Saladino - salto em distância, Xiang e Robles - 110m com barreira). Portanto, se algo inesperado acontecer, será mais uma das peças que Londres vem pregando em alguns grandes nomes de certas provas.

RUI BARBOZA NETO COMENTA ESTRATÉGIA DO BRASILEIRO E INUSITADA QUEBRA DE VARA DE COMPETIDOR CUBANO

 

Rui Barboza Neto

É bacharel em Esporte pela Escola de Ed. Física e Esporte da USP e treinador de atletismo e preparador físico da Associação a Hebraica de São Paulo. É comentarista do UOL nas provas de salto com vara e em altura.

UOL Cursos Online

Todos os cursos