
Cazuza
"Talvez 'Exagerado' seja minha música mais autobiográfica. Mas, quando eu fiz, estava pensando no Zeca [o produtor Ezequiel Neves]", disse o cantor em entrevista ao "Jornal do Brasil", em janeiro de 1989.
Em 1985, Agenor Miranda Araújo Neto se reinventou. Depois de brilhar à frente do Barão Vermelho já como Cazuza, partiu para a carreira solo, emplacou um sucesso atrás do outro, cresceu em reconhecimento e se consagrou como um dos maiores poetas de sua geração. A música escolhida para abrir a nova fase foi "Exagerado", que viria a se tornar um dos maiores hits de sua carreira e a tradução perfeita de sua personalidade.
No ano em que o disco homônimo completa três décadas, o UOL revisita a trajetória do cantor. Os ex-companheiros de Barão falam sobre a separação do grupo, os músicos que participaram da gravação do álbum revelam histórias dos bastidores e o cantor e compositor Leoni conta como nasceu a canção.
Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, e amigos como Ney Matogrosso, Sandra de Sá e Angela Ro Ro também lembram a batalha do cantor, que morreu aos 32 anos, vítima de Aids, em 7 de julho de 1990. Nos últimos cinco anos de vida, continuou produzindo como nunca. Para a poesia de Cazuza, 25 anos depois de sua morte, o tempo não para.
"Talvez 'Exagerado' seja minha música mais autobiográfica. Mas, quando eu fiz, estava pensando no Zeca [o produtor Ezequiel Neves]", disse o cantor em entrevista ao "Jornal do Brasil", em janeiro de 1989.
"Tinha essa simbiose entre os dois. Eles falavam muito parecido. Ezequiel dizia frases bombásticas. Cazuza fez para o Ezequiel, que era um espelho dele", lembra o baixista e produtor musical Nilo Romero.
"Te trago mil rosas roubadas" nasceu de um arroubo romântico da cantora, que, com a ajuda de dois amigos, afanou duas dúzias de rosas amarelas para conquistar uma namorada "fugidia". "Botamos na mala do carro dela, um Chevette amarelo. Caju me ligou dizendo: 'Fiz uma música que você vai adorar'", lembra Ro Ro.
"Quanto eu ouvi a primeira frase achei que a música era pra mim. Ele diz 'Amor da minha vida daqui até a eternidade, nossos destinos foram traçados na maternidade'. Pode até ser que tenha sido pra mim, porque também sou um pouco exagerada", conta Lucinha Araujo, mãe do cantor.
"Cazuza, na verdade, escreveu essa letra pensando na Elza Soares. Lembro dele falando que o Ezequiel Neves ficou com inveja, dizendo que era o verdadeiro exagerado. Mas Cazuza respondeu que ele era menos exagerado que a Elza", conta Guto Goffi, baterista do Barão Vermelho.
Quando deixou o Barão, Cazuza levou seis das dez músicas que seriam do quarto disco do grupo. Com uma nova banda, passou cerca de três meses no estúdio, em sessões de gravação regadas a uísque e que varavam a madrugada, ao lado dos produtores Ezequiel Neves e Nico Rezende.
Em novembro, foi lançado o disco "Exagerado". Além da faixa-título, o trabalho chamou a atenção por outro hit, "Codinome Beija-Flor", que foi bastante regravada ao longo dos anos e virou tema de novela. Já a ousada "Só as Mães São Felizes" não escapou da tesourada da censura: a faixa vinha com o aviso "Proibida a execução pública".
Depois de "Exagerado", Cazuza lançou outros quatro discos em sua fase solo. Enquanto "Só se For a Dois" (1987) mostrava seu lado mais romântico, "Ideologia" (1988) trazia algumas de suas letras mais incisivas e politizadas. Em 1989, o registro de sua última turnê deu origem ao álbum "O Tempo Não Para".
Lançado no mesmo ano, o duplo "Burguesia" foi produzido com a urgência de quem não tem tempo a perder.