UOL Olimpíadas 2008 Notícias

01/08/2008 - 09h03

Duelos mudam rumos de Cielo e Guido nas piscinas

Mariana Lajolo
Da Folhapress
Macau (China)
Desde pequeno, César Cielo já era competitivo. Nos torneios de natação pelo interior de São Paulo, muitas vezes os pais tinham de afastar o filho da piscina para conter seus ataques de fúria após uma derrota.

Não à toa, um revés, ainda na infância, traçou o caminho que o levaria a ser o melhor velocista do país. O responsável foi o então rival Guilherme Guido.

Aos 21 anos, os dois dividem as raias da piscina do Centro Olímpico Aquático de Macau, onde a seleção se prepara para os Jogos de Pequim. Na Vila Olímpica, irão dividir o mesmo quarto. A competição na infância os transformou em grandes amigos.

"Quando a gente tinha nove anos, eu nem conhecia o Guido ainda, e nós já competíamos. Nos torneios da região de Campinas, eu ganhava no costas, o Guido vencia no crawl. Os pódios eram quase sempre assim", rememora Cielo.

"Até que o Guido começou a ter problemas com adversários do crawl e começou a nadar costas também. Ele ganhou de mim, eu fiquei arrasado. Decidi que não nadaria mais costas", conta o atleta, natural de Santa Bárbara d'Oeste. Guido nasceu na também paulista Limeira.

Naquela época, em idas e vindas de competições, as famílias ficaram amigas. Cielo e Guido também conseguiram deixar a rivalidade na piscina. Mas o velocista ainda queria dar o troco.

Aos 15 anos, ele foi participar de uma série de treinamentos na Flórida (EUA). Voltou preparado e disposto. Na primeira disputa entre os dois nos 100 m livre, deixou Guido para trás.

"Ele ficou meio bravo mesmo com aquela derrota", relembra Guido. 'Chegou uma hora em que era ele quem estava ganhando de mim, mas no crawl. Aí decidi me firmar no costas."

Destinos traçados, os dois nadadores receberam ao mesmo tempo proposta para treinar em São Paulo, aos 16 anos, e foram morar juntos na capital.

Guido e Cielo também estavam lado a lado na primeira incursão pelos EUA, à procura de universidade para treinar e estudar. Cielo ficou em Auburn, tornando-se o maior velocista do campeonato universitário dos EUA. Guido não gostou das opções e voltou para o Brasil.

"A gente se dá muito bem. Por coincidência, estamos no mesmo quarto na Vila Olímpica. Isso é ótimo, eu me sinto à vontade com ele", diz Guido.

A divisão de quartos foi feita pelo Comitê Olímpico Brasileiro. Como a entidade não recebeu camas suficientes para que todos os atletas fiquem em Pequim até o fim dos Jogos, eles foram alocados de forma que terminem a participação olímpica juntos, para vagarem os quartos aos poucos.

Guido, inscrito nos 100 m costas, e Cielo, nos 50 m e 100 m livre, nadam até o último dia da competição olímpica _ambos fazem parte do 4 x 100 m medley. Não poderão ver outros esportes, mas terão a chance de torcer um pelo outro.

"Costumo dizer que a melhor coisa que o Guido fez para nós dois foi ganhar de mim no costas. Acho que hoje eu não estaria no nível dele [no costas] e talvez ele não estivesse tão bem no crawl quanto eu", diz Cielo.

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