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29/07/2008 - 07h15

Aos 61, mito canadense busca recorde de longevidade e uma medalha

André Medeiros
Em São Paulo
Há quase 40 anos no hipismo, Ian Millar, de 61 anos, vai entrar para um rol invejado: o de se tornar o atleta com mais participações olímpicas da história. De tão seleto, o grupo só tem mais um integrante. Garantido em Pequim, o canadense vai disputar a sua nona Olimpíada. Além dele, apenas o velejador austríaco Hubert Raudaschl's pode se gabar de ir a tantas edições.

Se nas Olimpíadas, o recorde de Millar impressiona pela longevidade, nos Jogos Pan-Americanos ele tem um número de medalhas maior que qualquer outro saltador no hipismo. Em oito disputas, conquistou nove medalhas, duas delas de ouro. A primeira veio em Indianápolis-1987 e a segunda, 12 anos depois, em Winnipeg-1999, disputando em casa.

O canadense contou ao UOL Esporte que sempre foi fascinado por cavalos e apaixonado por tudo que dissesse respeito a eles. "Quando eu tinha dez anos tive a primeira oportunidade de montar. Foi em um pônei. Uma vez que comecei, nunca parei de encontrar oportunidades para competir."

Apesar de tantas conquistas, ainda falta espaço para um objeto na sala de troféus de Millar: a medalha olímpica. E isto é algo que o incomoda. "Toda competição que não venço me sinto incomodado. Um competidor tem que pensar sempre como um vencedor. Porém, sei que o hipismo é um esporte que não lhe permite ganhar sempre", disse. Seu melhor desempenho em Olimpíadas aconteceu em Los Angeles-1984 e Seul-1988, quando terminou na quarta posição por equipes.

Se não tem vitórias olímpicas, Millar goza de um prestígio em campeonatos mundiais. Montando Big Ben, ele venceu a Copa do Mundo de Hipismo de 1988, na Suécia. Um ano depois, foi campeão em Tampa, Estados Unidos, entrando para a história ao lado de seu cavalo como o primeiro conjunto a vencer duas finais de Copa do Mundo seguidas.

Cavalo que deu a Millar os títulos mais importantes, Big Ben morreu em 1999. Desde então, o canadense montou vários outros. Atualmente, compete com In Style, de 13 anos, e com Redefin, que completou dez recentemente.

Ian Millar até chegou a conquistar uma medalha dourada, porém não-oficial. Em 1980, o Canadá fez parte do boicote às Olimpíadas de Moscou e disputou o torneio de Roterdã, um torneio paralelo ao que acontecia na capital soviética. A vitória na Holanda foi comemorada, mas o Comitê Olímpico Internacional (COI) não reconheceu o título do país como olímpico. "Comemoramos muito a vitória naquele dia. Pena que o COI não a reconheceu", disse o cavaleiro.
A MEDALHA QUE NÃO VALEU
Mesmo alcançando o primeiro lugar do ranking mundial em 1987 e 1989 montando Big Ben, o atleta prefere não apontar qual o melhor animal. "Bons cavalos são bons por diferentes motivos. Ben é, sem dúvida, inesquecível. Ele era esperto, tinha uma mente brilhante e uma garra para vencer. In Style é mais atlético, tem mais vigor físico. Em geral, é difícil tecer comparações".

Além de Big Ben, Ian Millar teve outra perda importante na sua vida. Em 2007, sua esposa, Lynn Millar, morreu vítima de câncer. Mesmo assim, o canadense afirmou que parar de competir nunca passou pela sua cabeça. "Se você parar, é difícil recuperar o entusiasmo de voltar a competir. Eu sei que o que ela sempre desejou foi ver eu e meus filhos, Amy e Jonathon, competindo. E é isso que vamos continuar fazendo".

Os filhos de Millar, Jonathon, 33, e Amy, 31, já duelam com o pai em alguns torneios da modalidade. Jonathon, inclusive, já venceu Millar no Grande Prêmio da Flórida 2008, onde a família fez o pódio do campeonato com Jonathon em primeiro, Millar em segundo e Amy em terceiro.

A longa carreira de Millar no hipismo já lhe permitiu competir também com pais e filhos. Os brasileiros da família Pessoa, Nélson e Rodrigo, são exemplos. O canadense faz questão de enaltecer o desempenho dos rivais. "Nélson Pessoa já era uma lenda quando competi pela primeira vez. O interessante foi assistir à emergência do time do Brasil sob o comando dele e de Rodrigo. Hoje, não tenho dúvidas em afirmar que o Brasil é uma potência no hipismo".

Em Pequim, Millar tem um duelo marcado contra Rodrigo, atual medalhista de ouro nos saltos. O cavaleiro está confiante em uma boa apresentação sua e da equipe canadense, a melhor, segundo ele, desde aquela que conquistou o quarto lugar nos Jogos de Los Angeles-1984 e Seul-1988, melhor posição do país no hipismo olímpico. "Este é o melhor time do Canadá desde 1988. Sabemos do nosso espírito de equipe e das nossas habilidades em trabalharmos como um time".

Os canadenses não precisam se preocupar caso Millar não conquiste medalhas na China. O cavaleiro afirma que ainda pretende ir aos Jogos de Londres-2012. E não fará isso pelo recorde de se tornar o atleta com mais participações olímpicas da história. "Estar em Londres daqui a quatro anos é sim um dos meus objetivos. Não faria isso pelo recorde, mas sim pela única razão pela qual ainda continuo saltando: o amor pelo hipismo."

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