A cada treino de Júlio Almeida é a mesma coisa. A caixa de munição usada não fica com ele, é entregue a um policial. Ainda sob o olhar do guarda, ele deve fechar sua pistola em um estojo e entregá-lo para as autoridades, que irão guardar a arma de fogo até o próximo treino.
Achou a preocupação exagerada? Pois a munição recebe ainda mais atenção. Já sem a ajuda do brasileiro, os policiais ainda inspecionam o estande de tiro, recolhem cada cápsula disparada e fazem a contagem, para conferir se a munição que foi devolvida confere com o número que resta na caixa de balas que ainda não foram usadas.
"Esse procedimento é normal. Em eventos específicos, não enfrentamos isso porque é feito um pacote e a organização cuida para que todas as armas sejam entregues. Mas como aqui em Macau estamos apenas nós, esse esquema é necessário", diz Voney de Melo Filho, técnico de Almeida.
O atirador carioca chegou à base de aclimatação do Comitê Olímpico Brasileiro na quinta-feira e só na sexta-feira liberou suas armas. Seu primeiro treino foi neste sábado. O outro membro da delegação brasileira de tiro esportivo, o dentista Stênio Yamamoto, vai direto para Pequim.
"Essa demora não nos prejudica porque, mesmo que estivesse tudo liberado ontem (sexta-feira), nós dificilmente treinaríamos. É uma viagem longa e desgastante", explica Volney, que trabalha com Júlio desde março.
Piloto da aeronáutica, Almeida aprovou a escolha do COB para Macau. No estande de tiro, ele enfrentou temperaturas altíssimas, superando os 30 graus. "É excelente encontrar essas condições. É esse clima que vamos enfrentar em Pequim e é bom estar acostumado. Uma pena o estande por lá ser climatizado. Se fosse como esse, acho que levaria vantagem. Já estou acostumado com o calor do Rio de Janeiro", diz o atirador.
A escolha de Macau também foi estratégica para o tiro. O estande foi montado nos mesmo moldes do que será usado em Pequim, com a mesma configuração. Além disso, o português João Costa, líder do ranking mundial de pistola, está por lá, junto com a delegação portuguesa que faz aclimatação em seu antigo território.