UOL Olimpíadas 2008 Notícias

10/07/2008 - 08h15

UOL Esporte testa força de favorito ao ouro olímpico. E toma ippon

Rodrigo Farah
Do UOL Esporte
Desliguei o computador e peguei minha mochila. Agora, meu trabalho continuaria no tatame. De saída da redação do UOL Esporte, choveram incentivos e piadinhas de meus colegas pela pauta que teria pela frente: encarar o campeão mundial dos pesados em um combate de judô para escrever esta matéria.

Antes de iniciar minha carreira no jornalismo, fui judoca membro da seleção brasileira júnior, o que me tornava um bom personagem para a matéria. Mas confesso que estava tenso.

Chegando ao ginásio do Ibirapuera, notei que o treino estava cheio. A seleção francesa era um atrativo e tanto para os judocas nacionais tentarem a chance de lutar com alguns dos melhores atletas do mundo. Era o meu caso: iria topar com Teddy Riner, vencedor do último Mundial.

A presença do francês de apenas 19 anos no tatame paulistano acirrou a procura de todos os judocas mais pesados por um embate. Como a concorrência seria grande, colei em Riner desde o aquecimento. A persistência deu certo, apesar da comunicação difícil: ele não fala inglês e nem eu francês.

Da primeira vez que me aproximei, me confundi. Não era minha vez. Fui lutar com um faixa roxa. Na segunda leva, lá estava eu diante do campeão mundial. A estratégia já estava traçada. Tentar anotar seus ataques era prioridade e só depois pensar em atacar, pois não queria que ele me jogasse.

Marcus Desimone/UOL Esporte
Presença da seleção francesa acirrou o treino no Ibirapuera em maio deste ano
Marcus Desimone/UOL Esporte
Repórter do UOL tenta evitar a pegada alta de Teddy Riner, que tem 2,04 m de altura
Marcus Desimone/UOL Esporte
Após cinco minutos desgastantes de luta, Farah se contenta com o ippon sofrido
FOTOS DO DESAFIO UOL X RINER
Logo na primeira troca de pegada vi a mão pesada vindo em cima da minha cabeça e percebi que seriam longos cinco minutos de luta. Para aproveitar o pouco fôlego que tinha, comecei a me movimentar para pelo menos dificultar as coisas para o francês. O início do combate deixou claro que eu estava fora de forma e que meu quimono, além de desbotado, estava "enferrujado".

Seus 2,04m de altura e 129 kg eram um grande problema. Mas o pior era sua variação de golpes, o que mais me preocupou nos primeiros momentos do treino.

Uma hora ele fez força para baixo e tentou um golpe de sacrifício, uma ação arriscada. Com muita força, consegui me estabilizar e acabei caindo em cima dele. Sobrevivi bem ao primeiro ataque. Mas ainda restavam 4min20s de luta.

Quando me levantei, vi a câmera do UOL e decidi ir pra cima. Vale lembrar que uma queda no treino pouco importa. Também no judô vale a velha máxima "treino é treino, jogo é jogo". Mesmo não sendo uma competição, me senti pressionado pela situação, o que me deu um ânimo a mais.

Tentei me aproveitar da altura de Riner e apliquei agachado um golpe chamado seoi-nague. Foi meu único momento de ouro na luta. Ele rodou por cima das minhas costas e caiu de frente. Foi o suficiente para me deixar com um sentimento similar ao de dever cumprido. Mas também serviu para o francês entrar no clima.

Ele passou a aumentar o ritmo sobre mim. Comecei a sentir intensamente os três anos longe do esporte. Estava exausto. Isso sob o olhar sério do técnico da seleção brasileira Luiz Shinohara, que me acompanha desde os cinco anos e me recebeu naquele dia com a frase: "Toma cuidado, você está pesado demais".

Depois de algumas tentativas por baixo, ele conseguiu me derrubar justamente com a primeira técnica de sacrifício que havia tentado na luta. Só que desta vez não tive chance: um verdadeiro ippon, um golpe perfeito.

Teddy Riner tem 19 anos, mais de dois metros de altura, quase 130 kg e um sorriso fácil. Nos ombros do quase adolescente nascido na ilha de Guadalupe, no Caribe, estão as maiores esperanças de conquista do ouro olímpico em Pequim da França, uma das potências do judô mundial.
PERFIL DE TEDDY RINER
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A partir daí comecei a bufar e a olhar para o relógio. Mesmo sem cair mais nenhuma vez até o alarme entoar, fui alvo fácil das investidas de Riner e o máximo que consegui fazer foi me defender para não sofrer nova queda.

Terminou a luta e deixei o tatame com os colegas do UOL vindo me dar os parabéns. Parabenizar pelo quê? Um deles disparou: "Pensei que ele ia varrer o chão com você e te jogar fora". É verdade, podia ter sido muito pior.

Agora era cumprimentar os velhos amigos, trocar o quimono pela roupa civil e voltar para redação. Ainda de chinelos, respirei fundo e liguei o computador. Todos queriam saber o que tinha acontecido. Pois aqui foi o meu relato (só espero que a reportagem em vídeo não dê uma versão muito diferente).

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