"Precisamos de jogadores experientes para Pequim". Com esta afirmação, o técnico da seleção brasileira, Dunga, explicou como seria a convocação para a seleção olímpica após o empate sem gols contra a Argentina, pelas eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo de 2010. Porém, o que se viu na lista desta segunda-feira contradiz o discurso do comandante e só consolida a tônica da "preparação" do país para obter o inédito ouro olímpico.
Dos 18 convocados, apenas três deles estiveram em mais de 40% dos 30 jogos sob o comando do treinador gaúcho. Robinho, ícone da era Dunga, foi chamado em todos os compromissos e atuou em 29 partidas. O meia Diego, do Werder Bremen, esteve em 25 convocações, enquanto Ronaldinho Gaúcho figurou em 17 listas da seleção. Apesar de ser o segundo com mais aparições, Diego foi titular em apenas seis jogos.
Os outros 15 jogadores da seleção olímpica estão longe de serem considerados "experientes". Rafael Sóbis e Anderson têm nove e sete partidas pela seleção no período. Depois deles, todos os outros não atuaram em mais de cinco jogos. O maior exemplo é justamente o zagueiro Thiago Silva, um dos convocados com mais de 23 anos. Os outros são Ronaldinho e Robinho.
O zagueiro do Fluminense foi chamado apenas para três partidas (amistoso contra Argélia e duelos contra Argentina e Paraguai pelas eliminatórias), não entrou em nenhum dos compromissos, sequer participou dos amistosos feitos pela seleção olímpica (contra um combinado carioca e outro contra os melhores do Brasileiro-2007) e só figurou nas três listas por contusões de outros atletas da posição. Ele entrou na vaga de Alex, do Chelsea, nas eliminatórias, e substituiu Luisão, do Benfica, diante dos africanos.
Além de Thiago Silva, os goleiros Diego Alves e Renan, e o zagueiro Breno só ficaram na reserva nos duelos da seleção principal. Entretanto, os três participaram do amistoso contra o combinado carioca em 22 de junho. E mesmo nos dois jogos que fez com a seleção olímpica Dunga não levou a campo alguns dos convocados para Pequim. São os casos dos laterais Ilsinho e Marcelo, do volante Anderson e do atacante Jô, além de, obviamente, os atletas acima de 23 anos, exceção feita a Robinho no jogo de três semanas atrás.
A situação só reforça o descaso com que foi tratada a preparação do Brasil para os Jogos Olímpicos. Apesar de ser a única conquista de relevância internacional que falta à seleção, Dunga testou apenas duas vezes os atletas abaixo de 23 anos e ainda passou vexame.
QUEM PARTICIPOU DOS JOGOS DA SEL. OLÍMPICA |
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Seleção carioca*: Diego Alves, Renan, Alex Silva, Breno, Rafinha, Hernanes, Lucas, Diego, Robinho, Alexandre Pato e Rafael Sóbis * Thiago Silva, Thiago Neves e Anderson foram convocados, mas dispensados da partida |
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Melhores do Brasileiro: Renan, Breno, Thiago Neves e Alexandre Pato |
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BRASIL 0 X 3 MELHORES |
BRASIL 1 X 0 CARIOCA |
Em 9 de dezembro do ano passado, a seleção apanhou de 3 a 0 dos melhores do Brasileiro-2007, que sequer treinaram juntos antes da partida. Seis meses depois, diante de outro rival montado às pressas (uma equipe que mesclou jogadores do Boavista, Madureira e reservas de Flamengo, Botafogo e Vasco), o Brasil sofreu para fazer 1 a 0, em Volta Redonda.
Uma postura bem diferente da adotada pela Argentina, atual campeã olímpica. Apesar de ter outro técnico (Sergio Batista), sete atletas da equipe que vai a Pequim vêm sendo chamados com freqüência por Alfio Basile na equipe principal: o goleiro Ustari, o zagueiro Burdisso, os volantes Gago e Mascherano, o meia Riquelme, e os atacantes Messi e Aguero.
Além disso, sete jogadores da seleção olímpica (Ustari, Gago, Romero, Banega, Zabaleta, Lavezzi e Buonanote) se apresentaram nesta segunda-feira para iniciar os treinamentos. O restante da delegação deve chegar até 14 de julho para a preparação. Já o Brasil só fará a primeira atividade em 22 de julho e, segundo a CBF, "provavelmente na Granja Comary". Um dos rivais da seleção brasileira na primeira fase, a China treina desde o final de maio.
E agora a Olimpíada pode ter ganho um papel decisivo para a manutenção de Dunga no cargo, já que a seleção realiza uma campanha fraca nas eliminatórias, ocupando o quinto lugar, e o treinador vem sendo alvo de muitas críticas da torcida. Em Pequim, o Brasil e Dunga saberão se as contradições e o pouco tempo de preparação deram resultado.