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21/04/2008 - 08h30

Para Zagallo, revés em Atlanta-96 foi a maior decepção da carreira

Renan Prates
Em São Paulo
Com uma vasta história no futebol mundial, o ex-técnico Mário Jorge Lobo Zagallo colecionou alegrias e decepções durante a sua carreira. Mas quem pensa que a maior decepção foi o vice-campeonato na Copa do Mundo de 1998 está enganado: Zagallo diz que não engoliu o bronze na Olimpíada de Atlanta em 1996.

ELOGIOS A DUNGA
Folha Imagem/Arquivo
Zagallo fez elogios ao trabalho que está sendo realizado na seleção brasileira pelo técnico Dunga, que foi seu jogador na Copa de 1998. "Ele entrou num período de reformulação da seleção brasileira. O que ele precisava era ganhar, e foi isso que ele conseguiu fazer", elogiou.

O "Velho Lobo" acredita que Dunga deve utilizar a Olimpíada também como laboratório da seleção principal. "Essa seleção olímpica vai ser importante para tirar conclusões de quem vai servir também para a principal. Pode estourar aí o Pato, quem sabe?".

Sobre a validade de Dunga conciliar as duas seleções, como Zagallo fez em 1996, o ex-treinador foi evasivo. "Tem vantagens e desvantagens. Se ele ganhar [o ouro] vai ser o único, se perder, terá o mesmo caminho dos outros".

Zagallo deu a receita a Dunga para vencer a Olimpíada. "Tem que ter bom time, competência, e sorte. A Olimpíada é um tipo de competição que só dá para vencer, é um mata-mata, não se pode perder".
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"Dentro do futebol, certamente faltou ganhar uma Olimpíada. Ganhávamos de 3 a 0, acabamos perdendo por 4 a 3. Já tínhamos o jogo ganho, não sei o que aconteceu. Incrível, impossível, mas aconteceu", declarou Zagallo, se referindo ao revés por 4 a 3 para a Nigéria na prorrogação, que acabou tirando o Brasil da final.

"Se a Nigéria estivesse ganhando de 3 a 0, e o Brasil virasse, estaria tudo dentro de uma normalidade. Agora acontecer o contrário, perder logo no início da prorrogação, não tem explicação", completou o ex-treinador, relembrando também que os argentinos até tinham se retirado do estádio quando o Brasil conseguiu a vantagem no marcador.

Na verdade, Zagallo cometeu um equívoco. O Brasil abriu o placar com Flávio Conceição logo a 1min de jogo. Roberto Carlos, contra, igualou a partida para os nigerianos. Bebeto e Flávio Conceição deixaram a seleção à frente novamente, mas Ikpeba e Kanu (duas vezes) decretaram a vitória da Nigéria.

Naquela competição, Zagallo apostou em três veteranos para conquistar a medalha de ouro olímpica inédita na história do Brasil: Aldair, Rivaldo e Bebeto.

Depois de uma estréia temerosa contra o Japão, na qual o Brasil perdeu por 1 a 0 com direito a uma falha da dupla Dida e Aldair, a seleção se recuperou na competição, e chegou à semifinal como favorita, principalmente por já ter vencido a própria Nigéria na fase inicial.

Mas uma 'pane' na seleção, que tinha como titulares Ronaldo, Dida e Roberto Carlos em idade olímpica, permitiu que a Nigéria empatasse e virasse a partida na prorrogação. O atacante Kanu, com dois gols, foi o algoz brasileiro.

"Falar por antecipação é difícil, mas que a gente tinha tudo para ser campeão isso tinha. Fizemos um gol lícito que o juiz não deu. Além disso, o Dida pegou um pênalti", relembrou Zagallo.

"Tirei o Juninho e coloquei o Rivaldo, que não vinha bem na competição. Mas pensei: vou colocar um cara experiente para melhorar o meio de campo. Ele acabou perdendo duas bolas, que geraram em gols do adversário". "Ele veio pedir desculpas para mim. Mas era um garoto, não poderia responsabilizá-lo por isso. Até disse a ele: você ainda vai ser campeão do mundo". Rivaldo fez parte da equipe pentacampeã em 2002.

Na disputa pelo bronze, o Brasil confirmou o favoritismo e goleou Portugal por 5 a 0, mas nem a conquista da medalha tirou a decepção de Zagallo. "Em 98, perdemos pelas circunstâncias, saí com a certeza que fiz o que podia fazer. Mas a derrota na Olimpíada ficou atravessada na garganta".

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