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09/04/2008 - 09h02

Sem grandes marcas, Cielo vê menos status e mais pressão até Pequim

Fernanda Brambilla
Em São Paulo
César Cielo saiu do GP do Ohio, no fim de semana, com novo recorde sul-americano nos 100 m livre (48s39) e o trunfo de ter vencido o fenômeno norte-americano Michael Phelps (48s41). Mas para quem esperava surpreender rivais e até quebrar recordes mundiais, bater Phelps serviu apenas como um 'consolo' para o brasileiro, que é apontado como a maior chance de ouro olímpico do país na natação mas, machucado, não mostrou o que pode fazer em Pequim.

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AP
Na chegada dos 100 m livre, Cielo contou com a solidariedade do rival Michael Phelps. "Ele viu que eu mal conseguia sair da piscina, e quis saber o que eu tinha feito. Contei a história e ele disse: 'Cara, eu já passei por isso. Fique tranqüilo que ainda tem tempo e vai dar tudo certo'". No ano passado, o norte-americano teve que ser submetido a uma cirurgia para colocação de um pino no punho direito.

Lesionado, Cielo pensou em desistir de nadar, uma vez que sentiu a pressão cair. "Minhas mãos começaram a inchar e meus técnicos cogitavam se seria seguro nadar com pressão tão baixa. Cheguei a pedir pra tirarem meu nome do balizamento, mas encarei. Pensei: 'Não vim pra Ohio pra ficar olhando a piscina, vamos ver no que dá.'"
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Cielo viu se esvaírem as esperanças de novos tempos após sofrer luxação nos dois dedões ao experimentar um protótipo de maiô, na véspera do torneio. "Ao chegar lá, eu pensava que não ficaria surpreso se baixasse meio segundo nos 50 m livre", lembrou o nadador. Se Cielo concretizasse a promessa, os seus 21s84 obtidos no Pan (melhor marca pessoal), se tornariam, com a projeção, a segunda melhor marca do mundo. O que ele conseguiu, no entanto, foi o segundo lugar nos 50 m livre com 21s93, superados pelo francês Fred Bousquet, que venceu com 21s90.

Cielo admite que, sem novas marcas, a pressão só aumenta, já que ele deixa de ser aposta incontestável para Pequim nas provas rápidas. "Não queria ter que baixar 1 segundo nas Olimpíadas. Mas paciência, é o jeito. Sei que lá, com tudo treinado, certinho, dá", resumiu o brasileiro, que quase desistiu da prova devido às fortes dores nas mãos. "Sei que poderia ter chegado perto do recorde se não tivesse machucado. Fiquei com gelo a noite toda, mas não adiantou."

Sem um tempo competitivo em Ohio, Cielo assume a perspectativa de expectador das novas estrelas da natação - Alain Bernard (FRA) 'tomou' o recorde dos 100 m livre (47s50), Eamon Sullivan (AUS) pulverizou a marca de Popov dos 50 m livre (21s28), e o brasileiro ainda não comprovou, no cronômetro, que está na briga.

Ciente de que seus futuros adversários em Pequim acompanharam a disputa no GP norte-americano, Cielo revelou alguns cuidados. "As televisões vieram me entrevistar, e não deixei que filmassem minhas mãos. Nas entrevistas, não falei sobre isso, minimizei o assunto, e não quis dar detalhes. Não quero que pensem que estou fora da briga, e nem que fiquem com dó", brincou o nadador, que ficará com talas nas mãos e se ausentará dos treinos durante uma semana.

"É claro que é frustrante, mas não teria nem como pedir um resultado melhor do que esse que eu tive do jeito que eu estava. Tenho que pensar que, mesmo com tudo isso, não nadei 22s, o que comprova que essa barreira eu já ultrapassei. Também senti o cansaço do NCAA (competição universitária que Cielo competiu na semana anterior) e mesmo assim, bati o cara (Phelps) e consegui ir melhor do que muitos caras bons que estavam lá. Foi uma competição forte", argumentou.

Seu técnico, Richard Quick, também preferiu ver o lado positivo do desastroso torneio. "Ele me disse que nunca viu algo desse tipo acontecer, mas que eu deveria agradecer por ter acontecido isso hoje, e não na China", contou Cielo.

Apesar do revés, o velocista não fará nenhuma alteração em seu programa até as Olimpíadas. Cielo compete no Maria Lenk, em maio no Rio de Janeiro, competição que servirá como última seletiva para os brasileiros. Depois, segue com a rotina de treinos até o Mare Nostrum, na Espanha, última competição antes de Pequim.

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