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04/03/2008 - 08h51

Em apuros, tênis brasileiro vê convite como solução para ir a Pequim

Antoine Morel
Em São Paulo
Com as novas regras apresentadas no último dia 12 de fevereiro pela Federação Internacional de Tênis (ITF) para a definição das vagas olímpicas, o Brasil se vê cada vez mais longe de ter um tenista na chave de simples em Pequim. Um convite que será dado a um país sul-americano pode ser a saída mais viável no momento para evitar que o tênis nacional fique fora de uma Olimpíada pela primeira vez desde Seul-1988 (quando o esporte voltou a ser disputado).

COM CONVITE, GUGA TEM CHANCE
AFP
Gustavo Kuerten, que está na sua turnê de despedida, ainda pensa em estar na China
Apesar de estar na sua turnê de despedida das quadras, Gustavo Kuerten, que esteve já nos Jogos Olímpicos de Sydney (2000) e Atenas (2004), ainda mantém uma esperança de poder jogar em Pequim. Fora do ranking mundial atualmente, Guga só poderia ir às Olimpíadas de agosto por meio de convite.

"Eu gostaria. Mas é uma situação que não depende de mim", afirmou o tenista durante o Aberto do Brasil, em meados de fevereiro. A Federação Internacional de Tênis ainda não se pronunciou se concederá o convite ao Brasil. Caso confirme, caberá aos dirigentes brasileiros anunciarem o tenista como representante nacional.

Na programação dos torneios que finalizarão a carreira do catarinense, Roland Garros seria o último. Se conseguir ir aos Jogos, as Olimpíadas de Pequim passariam a ser a última competição oficial de Kuerten.
DUPLA CORRE RISCO
O acordo entre a ITF e a ATP (Associação dos Tenistas Profissionais), que fez o torneio olímpico contar pontos para o ranking mundial, aumentou também de três para quatro o limite de tenistas de um mesmo país na chave, o que prejudica os brasileiros.

"A situação para nós ficou complicadíssima (...) Esse acordo da ITF e ATP foi positivo para o tênis, mas negativo para a vaga brasileira. Na verdade, você está jogando um torneio da ATP sem um qualifying", afirmou Jorge Lacerda, presidente da Confederação Brasileira de Tênis.

O torneio na China terá uma chave de 64 tenistas, sendo 56 deles classificados diretamente pelo ranking até 9 de junho e mais oito atletas convidados.

Segundo a lista divulgada nesta segunda, dia 3 de março, o último classificado diretamente à chave seria o colombiano Alejandro Falla, atual 79º do mundo, com 506 pontos. O melhor brasileiro na lista, Marcos Daniel, tem 375 pontos (115º do mundo). Como comparativo, um campeão de um torneio da ATP de menor porte, como o Aberto do Brasil, ganha 175 pontos. A última competição assim conquistada por um brasileiro foi em 2004, por Ricardo Mello, em Delray Beach (EUA).

Cada uma das associações ligadas à ITF receberão um convite. Entre elas, a sul-americana. Por isso, a torcida é para que os tenistas da região entrem na chave diretamente, sem necessidade de convite.

"Se os sul-americanos entrarem pelo ranking, só fica o Brasil de fora. Até por questão de coerência, acho que o convite ficaria com a gente", ressaltou Lacerda. A Argentina, o Chile, a Colômbia estariam até agora garantidos. O Uruguai, com Pablo Cuevas (número 91), o Equador, com Nicolas Lapentti (número 96) e o Peru, com Luis Horna (número 97) ainda lutam.

Segundo a ITF, consultada por e-mail, a definição dos convites sairá de uma decisão que envolverá o ranking e um critério por uma maior diversidade geográfica na chave das Olimpíadas.

A vaga via convites esbarra no Comitê Olímpico Brasileiro, que se recusa a aceitar que um atleta vá aos Jogos sem passar por qualquer critério de índice técnico. O presidente da CBT acredita que, no caso do tênis, pode haver uma exceção no caso.

BRASILEIROS NO RANKING
115 - Marcos Daniel375 pontos
145 - Thomaz Bellucci302 pontos
192 - Júlio Silva214 pontos
222 - Franco Ferreiro177 pontos
242 - Ricardo Mello165 pontos
248 - João Souza163 pontos
250 - Thiago Alves161 pontos
288 - Caio Zampieri131 pontos
298 - Flávio Saretta122 pontos
376 - Daniel Silva86 pontos
"O tênis é diferente. Acho que o COB não teria problema com isso. Concordo que não vale quando se faz um pedido de convite. Mas, a partir do momento que é oferecido, acho que não tem problema. Ainda não falei com eles", contou. O Comitê, por e-mail, respondeu à reportagem do UOL Esporte que até a semana passada não havia recebido qualquer informação da Federação Internacional de Tênis para decidir algo sobre o assunto.

Por mais que se prepare para pedir o convite, a CBT também tenta ajudar os atletas a chegarem no nível olímpico. Por meio da verba liberada em dezembro de 2007, dinheiro proveniente da Lei de Incentivos Fiscais do Esporte, a organização paga as passagens para os tenistas que têm mais chance de chegar aos Jogos.

O próprio Marcos Daniel é um deles. Nesta semana, ele joga o challenger de Bogotá (COL), que vale 80 pontos para campeão. O problema do tenista gaúcho é que ele defende até 9 de junho 91 pontos do seu desempenho de 2007. É o brasileiro que mais terá defesas a fazer neste período.

Mesmo com todos os números, Daniel diz que não faz as contas para estar nos Jogos. "Eu estou preocupado em jogar bem. Tenho que fazer o dever de casa todo o dia. Eu não levo muito em consideração esse negócio de defesa dos pontos. Eu quero chegar às Olimpíadas. E, para chegar às Olimpíadas, eu preciso jogar bem. Eu estou tranqüilo por estar fazendo o máximo", explicou ele, que neste ano teve quatro jogos e quatro derrotas.

Outro contemplado com as passagens, Thomaz Bellucci tem apenas 29 pontos para defender até a data limite definida pela ITF e virou uma esperança na vaga depois do título no challenger de Santiago na semana passada. Ele pulou da 170ª posição para o 145º posto. Mesmo assim, está 204 pontos distante de Falla, o último dos classificados diretamente.

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