UOL Olimpíadas 2008 Notícias

20/02/2008 - 08h34

Era Fidel transforma Cuba em potência nos esportes olímpicos

Bruno Doro
Em São Paulo
Amante do boxe e do beisebol, Fidel Castro revolucionou também o esporte em Cuba. Usando o sucesso esportivo como arma de marketing da revolução, os cubanos deixaram de ser uma nação insignificante no cenário olímpico para se tornar uma das maiores potências esportivas do planeta.

Folha Imagem
Ex-líder Fidel Castro foi responsável por uma revolução nos esportes em Cuba
FIDEL CASTRO E O ESPORTE
Em 45 anos, Cuba conquistou 158 medalhas nos Jogos Olímpicos, graças ao bom desempenho em esportes como boxe, judô e atletismo. Antes da Revolução de 1959, que levou Fidel ao poder, os cubanos somavam apenas 13 medalhas olímpicas - 12 delas na esgrima, graças ao fenômeno Ramón Fonst, primeiro latino-americano campeão olímpico.

O salto de qualidade do esporte cubano veio das escolas. Antes de 59, um em quatro cubanos era analfabeto. Com Fidel, a educação passou a ser acessível a todos, levando nessa esteira o esporte, com a educação física considerada matéria obrigatória.

Segundo a embaixada cubana em São Paulo, até 1958 Cuba tinha 15 mil esportistas. Hoje, 45 % da população pratica algum tipo de esporte e o governo soma 23 mil participantes em programas públicos para atletas de alto rendimento. Além disso, o nível técnico do esporte cubano é dos mais altos.

Ainda com dados da embaixada, o país tem um professor de educação física para cada 348 habitantes. Entre 1995 e 2005 mais de 11 mil profissionais do esporte deixaram legalmente o país para trabalhar em 97 países diferentes como treinadores. Nas Olimpíadas de Sydney-2000, 36 técnicos cubanos trabalhavam em outros países.

RADICADOS: NADA MUDA
Radicados nos Brasil, os cubanos Rafael Capote e Michel Ovedo, do handebol, e Indira Mestre, do vôlei, não acreditam que o esporte cubano vá mudar com a saída de Fidel Castro do poder. Consultados pelo UOL Esporte, o trio considera que possíveis diferenças só serão sentidas a longo prazo.

"É cedo para dizer se as coisas vão mudar. Afinal de contas, o Fidel deixou o poder para o irmão (Raúl). Mas se alguma mudança acontecer na sociedade em geral, para o bem ou para o mal, isso vai ter repercussão no esporte. Por que o esporte é o reflexo de Cuba", diz Capote, de 20 anos, que no ano passado desertou a seleção cubana no meio do Pan e hoje joga no time de São Caetano.
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Os resultados da ampliação do acesso da população ao esporte foram sentidos na primeira geração de esportistas criados dentro do sistema castrista. Nas Olimpíadas da Cidade do México, em 1968, oito anos depois da revolução, Cuba conquistou quatro medalhas de prata. Três anos depois, veio a explosão.

No Pan-Americano de Cáli, em 1971, Cuba conquistou 105 medalhas, 31 delas de ouro - no Pan de Winnipeg-67, foram apenas 47 pódios no total. Esse desempenho consolidou Cuba como maior potência esportiva da América Latina.

Mundialmente, esse passo foi dado em 1980, nas Olimpíadas de Moscou, boicotadas pelos Estados Unidos. Nos Jogos soviéticos foram 20 medalhas (10 no boxe) que valeram o quarto lugar no quadro geral de medalhas.

Em Barcelona-1992, primeira edição dos Jogos Olímpicos sem boicote desde Montreal-1976, os cubanos chegaram ao quinto lugar, com 31 medalhas conquistadas, o maior número de pódios em uma edição dos Jogos na história olímpica cubana.

Barcelona, porém, foi a última Olimpíada de Cuba com força máxima. Com a escassez financeira após a queda da União Soviética, na década passada, o esporte cubano sofre cada vez mais para acompanhar as superpotências.

Em Sydney-2000 foram 29 medalhas conquistadas, mas apenas o nono lugar no quadro geral. Em Atenas-2004, 27 medalhas e a 11º colocação. No Pan-Americano do Rio de Janeiro, no ano passado, Cuba ficou em segundo lugar, mas perdeu em número de medalhas para o Brasil, com 135 medalhas contra 161 pódios verde-amarelos.

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