UOL Olimpíadas 2008 Notícias

20/02/2008 - 08h30

Cubanos radicados no Brasil não crêem em mudanças pós-Fidel

Fernanda Brambilla
Em São Paulo
Radicados no Brasil, os cubanos Rafael Capote e Michel Ovedo, do handebol, e Indira Mestre, do vôlei, não acreditam que o esporte cubano vá mudar com a saída de Fidel Castro do poder. Consultados pelo UOL Esporte, o trio disse que possíveis diferenças só serão sentidas a longo prazo.

Folha Imagem
Castro recebia atletas antes das Olimpiadas para cerimônia de entrega da bandeira
FIDEL CASTRO E O ESPORTE
"É cedo para dizer se as coisas vão mudar. Afinal de contas, o Fidel deixou o poder para o irmão (Raúl). Mas se alguma mudança acontecer na sociedade em geral, para o bem ou para o mal, isso vai ter repercussão no esporte. Por que o esporte é o reflexo de Cuba", diz Capote, de 20 anos, jogador de handebol que no ano passado desertou da seleção cubana no meio do Pan-Americano e hoje joga no time de São Caetano.

Indira Mestre, primeira jogadora cubana campeã mundial no vôlei brasileiro, tem a mesma opinião. Segundo ela, o anúncio de Fidel foi apenas uma confirmação formal de um cenário que já estava consolidado.

"Não acredito que isso trará qualquer mudança. Acho que ele só deixou o poder porque estava muito enfermo, e isso não é uma mudança real", afirma a jogadora de 28 anos, que disputa a Superliga de vôlei pelo Mackenzie.

No Brasil desde 2006, o goleiro de handebol Michel Ovedo, também do São Caetano, é o único que vislumbra uma mudança, mas gradativa. "Uma coisa que deve mudar é a questão tecnológica no esporte. Acho que os avanços tecnológicos devem chegar ao esporte cubano, mas isso a longo prazo", espera o atleta.

CUBA ELEVADA À POTÊNCIA
Amante do boxe e do beisebol, Fidel Castro revolucionou também o esporte em Cuba. Usando o sucesso esportivo como arma de marketing da revolução, os cubanos deixaram de ser uma nação insignificante no cenário olímpico para se tornar uma das maiores potências esportivas do planeta.

Em 45 anos, Cuba conquistou 158 medalhas nas Olimpíadas, graças ao bom desempenho em esportes como boxe, atletismo e judô. Antes da Revolução de 1959, que levou Fidel ao poder, o país somava apenas 13 - 12 delas do fenômeno da esgrima Ramón Fonst, primeiro latino campeão olímpico.
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Mesmo longe da ilha caribenha, os três mantêm laços com a terra natal. Capote e Ovedo desertaram da seleção cubana e, portanto, não podem visitar os parentes que deixaram por lá. Sem Fidel, a esperança é que, a longo prazo, tenham oportunidade de visitar a família. "É claro que tenho muita vontade de voltar para casa, mas por enquanto, as coisas continuam do mesmo jeito", fala Capote.

Mestre deixou Cuba legalmente. "Sempre admirei muito o vôlei do Brasil, feminino e masculino, que é de alta qualidade, e quis vir jogar aqui. Ainda estou me adaptando, não falo muito bem a língua, mas estou sendo muito bem tratada por todos", garante a atleta.

Lembranças de Fidel
Apesar de opiniões diferentes sobre o sistema castrista, os três guardam lembranças do agora ex-presidente. Ovedo, por exemplo, se lembra com orgulho de um aperto de mão que recebeu de Fidel em 2000, antes das Olimpíadas de Sydney. Capote esteve presente na última cerimônia esportiva de Fidel, antes do Pan do Rio. "Foi bem rápido, ele apenas nos desejou sorte", conta o jovem.

Campeã mundial com a seleção caribenha, Mestre é uma "veterana" de encontros com Fidel. "Sempre, sempre! Éramos recebidas por Fidel na volta de qualquer campeonato. Isso era muito interessante." A jogadora não sabe dizer se esses encontros continuarão com o irmão de Fidel, Raúl, que comanda Cuba desde o afastamento. "Isso era uma coisa bem particular dele (Fidel)".

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