Taekwondo

Medalhista da Rio-2016 toma calote de confederação e já sofre para 2020

Jamie Squire/Getty Images
Maicon Andrade com a medalha imagem: Jamie Squire/Getty Images

Guilherme Costa

Do UOL, em São Caetano do Sul (SP)

As Olimpíadas deste ano mudaram o status de Maicon Andrade, 23, no cenário nacional. O lutador de taekwondo, que meses antes havia sido alijado dos Jogos Pan-Americanos e do Mundial, obteve na Rio-2016 uma medalha de bronze, feito inédito para um atleta do país na chave masculina da modalidade. O pódio histórico, contudo, não representou bonança. Meses depois, prejudicado por um calote da CBTKD (Confederação Brasileira de Taekwondo), Maicon já começou a sentir prejuízos na preparação para Tóquio-2020.

A dívida total da CBTKD com o atleta é algo em torno de R$ 24 mil. A entidade não repassou até agora um valor pago pela Petrobras como premiação pela medalha de bronze – Maicon teria direito a R$ 12,5 mil, montante que a estatal depositou na conta da confederação logo após o término dos Jogos Olímpicos. Além disso, o lutador arcou com passagens e estadia de iranianos contratados como sparrings na reta final da preparação para a Rio-2016.

Segundo a CBTKD, a demora para repassar a Maicon o valor pago pela Petrobras tem a ver com questões burocráticas. O presidente da entidade, Carlos Fernandes, foi afastado por suspeitas de fraudes e improbidade administrativa. A decisão, de acordo a instituição, gerou um trâmite para alterar representante e senha no Banco do Brasil.

Em e-mail enviado ao UOL Esporte, a CBTKD informou que a questão foi solucionada nesta semana. Maicon foi avisado na última quarta-feira (26) que tem de viajar ao Rio de Janeiro, sede da entidade, para “acertar todas as suas pendências com a confederação”.

A CBTKD também disse que o reembolso do valor referente às passagens dos iranianos deve ser feito até o fim da próxima semana. A explicação da entidade para esse prazo estendido é que o dinheiro está retido na companhia aérea responsável.

Mesmo que as questões sejam resolvidas, contudo, a preparação de Maicon para os Jogos de 2020 já foi afetada. O lutador pretendia utilizar os R$ 24 mil para custear viagens a competições nos Estados Unidos e na Rússia no segundo semestre de 2016. Os eventos seriam chances fundamentais de colocá-lo entre os primeiros do ranking mundial, o que tornaria o lutador elegível ao benefício federal Bolsa Pódio (que teve teto de R$ 15 mil no ciclo passado). Além disso, como o Brasil não tem vagas em todas as categorias das Olimpíadas, a definição dos atletas que representam o país é feita de acordo com a classificação individual.

“Se eu tivesse disputado a competição na Rússia, poderia somar pontos para estar no Grand Prix do fim do ano. Com isso e o evento dos Estados Unidos, poderia me colocar entre os primeiros do ranking e me garantir no Grand Prix do ano seguinte. Como esse evento tem pontuação alta, ficaria bem na classificação e na chance de estar nos Jogos Olímpicos de Tóquio”, ponderou Maicon.

“A Bolsa Pódio também poderia me ajudar. Hoje a gente tem de bancar todas as coisas aqui, como viagens e equipe. Se eu tivesse mais dinheiro, poderia ter uma estrutura mais própria, como uma nutricionista aqui”, completou.

No último ciclo, segundo a comissão técnica, Maicon teve de custear viagens para todas as principais competições. Para isso, organizou rifas, vendeu equipamentos e usou dinheiro auferido em festas.

“É catastrófico um medalhista olímpico passar pela situação que ele está passando. O dinheiro faz muita falta a ele. O Maicon não é um atleta de ganhos absurdos, até porque apenas os expoentes internacionais do taekwondo e as pessoas da equipe dele acreditavam que ele podia ser um medalhista. É só você ver a postura que a confederação teve com ele”, disse Marcel Camilo, advogado do lutador.

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