Paraolimpíadas

Exclusivo: Zanardi revela choro e sentimento diferente na Rio-2016

REUTERS/Ueslei Marcelino
Alex Zanardi conquista a medalha de prata no ciclismo de estrada H5 imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino

Daniel Brito

Do UOL, no Rio de Janeiro

O italiano Alessandro Zanardi, 49, chorou quando conquistou a medalha de ouro, na manhã de quarta-feira, 14, nas Paraolimpíadas do Rio-2016. Um pouco antes da cerimônia do pódio da prova de contra-relógio de handclycling (bicicletas adaptadas, movidas com o movimento dos braços). Foi longe da imprensa, que o aguardava ansiosa para ouvi-lo, e dos fãs, que gritavam seu nome ávidos por uma selfie. Foi um choro escondido, meio que sem sentido.

“Comecei a chorar. E não conseguia parar. Para mim, naquele momento, parecia que algo por dentro havia se partido. Acumulei tanta pressão de tantos lados e por diversos motivos. A tentação era grande de colocar a bicicleta na caixa e voltar para casa”, relatou o ex-piloto de Fórmula 1 e bicampeão da Indy.

Ele conversou com exclusividade com o UOL Esporte no final da tarde de quinta-feira, 15. Exatamente no 15º aniversário do acidente que lhe ceifou as duas pernas. Foi em 15 de setembro de 2001, em  Lausitzig, na Alemanha, que seu carro rodou e foi para o meio da pista. O canadense Alex Tagliani, a mais de 300 km/h, acertou o carro do italiano. O corpo do piloto sofreu demais. Foi reanimado sete vezes, perdeu muito sangue. Por 15 minutos, sua circulação ficou praticamente parada.

“São 15 anos do meu acidente. É uma boa oportunidade de relembrar um episódio que tem um lugar doce no meu coração. Para ser sincero, eu não tive que esperar 15 anos para saber que a vida ainda é uma grande oportunidade. Eu não precisava ganhar uma medalha de ouro para saber disso. Quando abri meus olhos de novo, eu estava feliz apenas por estar vivo”, explicou. “Posso dizer que estou feliz hoje, mas estava mais feliz 15 anos atrás. Porque, o que eu tenho certeza é que eu já perdi 15 anos da minha, e esses dias nunca mais vão voltar”.

Os Jogos Paraolímpicos são a quarta vez que Zanardi vem ao Rio. As outras três ocorreram na década de 1990, quando era piloto da Fórmula Indy. “Vinte anos atrás, na mesma área onde ergueram o Parque Olímpico, havia um belo circuito onde disputávamos provas da Fórmula Indy e eu sempre fui muito rápido naquele autódromo. Mas nunca ganhei uma corrida, embora tenha merecido”, relembra, orgulhoso.

O curioso nesta  história é que esta é apenas a segunda participação em Jogos Paraolímpicos de Zanardi. E, mais uma vez, em um local emblemático na sua carreira no automobilismo. Em Londres-2012, as provas de ciclismo foram realizadas no icônico circuito de Brands Hatch. “Lá eu sempre fui muito rápido, sempre ganhei pole positions, mas nunca venci. Quando disseram que o local de competição dos Jogos Paraolímpicos de Londres-2012 seria em Brands Hatch eu disse: ‘Olha aí a oportunidade de ganhar alguma coisa lá’. E daí quando disseram que eles construiriam o Parque Olímpico no lugar onde um dia foi o circuito que eu amava aqui no Rio de Janeiro eu disse: “Uau isso é um sinal lá de cima, não?’”.

Embora o Parque esteja sobre a antiga pista do Autódromo de Jacarepaguá, as provas de ciclismo as quais Zanardi disputa ocorrem no Pontal. Foi lá que ele conquistou o ouro no contra-relógio, na quarta-feira, e prata na proa de estrada, na quinta, 15. Embora o resultado de ontem tenha sido pior que o de seu primeiro dia de competição, a crise de choro veio após o ouro. E até agora ele busca um sentido.

“Eu terminei a prova [na quarta-feira] e senti...nada. Não sei o que passou comigo, mas eu me senti...não triste, mas eu senti que era o fim. É uma sensação que sempre tenho ao final de cada evento. Mas as Paraolimpíadas não havia terminado, só termina para mim nesta sexta-feira. E eu só volto para casa na segunda-feira, após o encerramento. Mas, ironicamente, eu me senti muito melhor na manhã desta quinta-feira, quando fui prata. Hoje [quinta-feira], era Alessandro tentando seu melhor nas Paraolimpíadas. Não era Zanardi".

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