Uruguaio cria a própria cadeira, fica em último e chama rivais de rudes

Do UOL, em São Paulo
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Eduardo Dutra, atleta do Uruguai da classe T54 das Paraolimpíadas do Rio

Essa é uma história engraçada. Assim como seu personagem, o uruguaio Eduardo Dutra. Tão engraçada que o atleta, cadeirante da classe T54, fez piada ao cruzar a linha de chegada dez segundos depois do vencedor nas eliminatórias dos 400m.

Ele foi o pior do dia entre os homens e só não levou uma volta na pista do estádio do Engenhão porque a prova dos 400m, como muitos sabem, é justamente uma volta na pista de atletismo. “Meus rivais foram tão rudes. Nem me esperaram”, brincou.

O bom humor mostra o quanto a simples participação nos Jogos Paraolímpicos é uma grande vitória para o atleta. A começar por sua cadeira de rodas de competição. Toda pintada de preto, é chamada de “La Negra” pelo atleta. Parece nova. Não é.

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Dutra e "La Negra" na pista do Rio de Janeiro: os dois ainda disputam os 100m, na sexta-feira

“Eu a construí usando como base uma cadeira que veio da Argentina, bem velha”, conta. “Eu a desmontei inteira, vi quais peças serviam, quais precisariam ser substituídas, quais poderiam ser arrumadas. E fui atrás das peças”, completa.

A maior dificuldade era achar encaixes que funcionam. Como ele usou peças de diferentes equipamentos, parafusos, porcas e arruelas não eram compatíveis. “Rodei por Montevidéu inteira atrás de peças que funcionavam. Às vezes, era questão milímetros”.

Usar uma cadeira que ele mesmo fez não foi um problema. Difícil foi chegar na pista e ver os equipamentos que os outros atletas estavam usando. “Eram cadeiras europeias de última geração, até mesmo a da BMW que os caras dos EUA tinham. Eu não acreditava no que eu estava vendo”.

De origem humilde, Eduardo tentou usar próteses, mas um problema na produção da peça o conformou a aceitar a cadeira. Aos poucos, ele foi se acostumando. “Eu não queria no começo, mas eu e meus amigos começamos a encontrar diversão com ela. Descíamos rampa e até pegávamos carona na traseira de ônibus. Éramos kamikazes”.

Antes do esporte, a vida de Eduardo era difícil. Ele deixou a escola cedo e, por conta de sua deficiência, uma má formação congênita nas pernas, encontrar um emprego era uma tarefa árdua. Ele chegou a vender flanelas em semáforos da capital uruguaia para se manter. Quando começou a se destacar em corridas, porém, veio o auxílio governamental.