Pianista e discreto, guia-rival de Terezinha evita fama de trapaceiro

Bruno Braz
Do UOL, no Rio de Janeiro
Atsushi Tomura/Getty
Chris Clarke e Libby Clegg com a medalha de ouro: venceram Terezinha nos 100m e 200m

"Vim correr contra mulher. Não homem". A frase de Terezinha Guilhermina tinha endereço certo: Chris Clarke, o guia britânico que conduziu Libby Clegg a dois ouros na Paraolimpíada. Acusado pela brasileira de cometer irregularidades na prova dos 100 metros rasos da classe T11 (cego total), o atleta, que tem postura discreta fora das pistas, se mostrou preocupado em não ficar com a imagem de trapaceiro no Rio de Janeiro.

Clarke opta por deixar os holofotes voltados para sua companheira, que além de ser responsável por destronar Terezinha, ainda obteve o recorde mundial dos 100 m com a marca de 11s91.

"Não senti que estava puxando em momento algum. Não me lembro de ter quebrado as regras. Eles estavam dizendo que eu estava na frente dela (Libby Clegg). Bem, eu estava guiando. Você não orienta por trás”, declarou o velocista, lembrando da acusação de Guilhermina onde é proibido o guia puxar sua atleta.

Fugindo de polêmica, Chris, que é um apelido diminutivo de Christopher, se dedica ao seu lado músico nas horas vagas. Fã dos conterrâneos Beatles, o velocista tem grande talento no piano, onde compartilha sua arte nas redes sociais. O violão é outro companheiro nos momentos de concentração e relaxamento.

Além do atletismo, o britânico se destaca na sinuca, onde tem um desempenho próximo ao dos profissionais, chegando a encaçapar as oito bolas da mesa em uma rodada só.

Nas pistas, Chris Clarke teve certo destaque nos torneios de base, sendo campeão mundial e europeu dos 400m da categoria e campeão europeu no revezamento 4x400m. Há três anos ele se dedica ao trabalho de guia.

Na Rio-2016, ele também chamou a atenção da imprensa brasileira pela semelhança com o atacante André, ex-Corinthians e que atualmente defende o Sporting, de Portugal.

Chegou a ser desclassificado

Embora negue as acusações de Terezinha, Chris Clarke chegou a ser desclassificado nas semifinais dos 100 metros pelo mesmo motivo. A arbitragem, no entanto, reconsiderou o resultado e manteve o primeiro lugar e o recorde mundial a Libby Clegg.

‘Ele me inspira’

Chris Clarke e Libby Clegg estão juntos somente há sete meses, período em que a britânica foi reclassificada da classe T12 (cego parcial) para T11 (cego total), onde passou a correr com a venda. Simpática, a velocista foi só elogios ao companheiro.

“Ele me inspira a fazer o meu melhor na carreira. Quando eu fui reclassificada como uma T11, eu estava realmente muito assustada com isso porque, usando uma venda, é completamente diferente de usar a visão que eu tenho. Eu estava apreensiva, mas Chris foi absolutamente incrível. Ele é um bom guia e realmente me ajudou muito”, disse à tv britânica Channel 4.