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Dumbo veio de Angola aprender braile. Hoje é o 11 da seleção de cegos

Daniel Zappe/MPIX/CPB
O angolano Mauricio Dumbo defende a seleção brasileira de futebol de 5 (para cegos) imagem: Daniel Zappe/MPIX/CPB

Daniel Brito

Do UOL, no Rio de Janeiro

Maurício Dumbo, 26, não acreditou quando recebeu a informação de que estava convocado para defender o Brasil nos Jogos Paraolímpicos do Rio-2016. Jurava que era trote. Teve que receber uma outra ligação, de outro membro da comissão técnica, para ter certeza. Hoje, ostenta a camisa 11 da seleção brasileira de futebol de cinco (para cegos), que enfrenta a China, às 16h, pela semifinal.

Dumbo é angolano de Benguela, no noroeste do país, e está no Brasil desde 2001. Veio aos 11 anos em um intercâmbio para aprender braile e tomar aulas de informática. “Era um convênio entre o governo brasileiro e angolano para que os deficientes angolanos aprendessem aqui e levassem para lá o conhecimento”, relata Dumbo.

Ele aprendeu braile, aprendeu a trabalhar com computador, mas decidiu ficar de vez no Brasil, não queria voltar para a guerra civil em que se encontrava Angola, no início do século. “Meu pai era soldado de um exército, e os rivais invadiam os bairros, a família inteira tinha que se mudar de casa quase que toda semana. Dormíamos preocupados, dormíamos, vamos dizer assim, de olhos abertos porque a qualquer momento poderia cair uma bomba na casa”, relembra Dumbo.

A guerra também foi a responsável, talvez indiretamente, pela cegueira do hoje atacante da seleção brasileira de futebol de cinco. Ele contraiu sarampo aos cinco anos de idade. Com medo das minas terrestres, a família evitava sair de casa e Maurício Dumbo foi tratado de forma rústica, dentro de casa. Resultado: perdeu a visão e a audição. Voltou a ouvir alguns meses mais tarde, porém não teve mais a oportunidade de enxergar. “Hoje eu digo, felizmente não enxergo, caso contrário não estaria nas Paraolimpíadas e tantas outras coisas boas que me aconteceram”.

Por causa da guerra, passou oito anos sem ter notícias da família. Quando tornou a contatá-los, em 2009, o pai já havia morrido, mas a mãe e as irmãs estão vivas e acompanham a trajetória do caçulinha da família Dumbo na Rio-2016. “Devem estar vendo tudo pela internet. Quero visitá-las em janeiro, quando as passagens estiverem mais baratas”.

O jogador da seleção brasileira naturalizou-se brasileiro, formou-se em direito e hoje trabalha no Tribunal de Justiça do Paraná. Aprendeu a jogar futebol de cinco, conquistou a confiança do técnico Fábio Vasconcelos, e foi convocado, mesmo sem acreditar,

Há 15 anos no Brasil, garante que já incorporou a rivalidade com os argentinos, contra quem espera-se uma decisão pela medalha de ouro no sábado, 17. “Mas antes temos que vencer a China nesta semifinal”, avisou.

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