'Parem derramamento de sangue na Síria', pede refugiado da Paraolimpíada
Daniel BritoDo UOL, no Rio de Janeiro
Ibrahim Al Hussein é um dos dois atletas que compõem o time de atletas refugiados nos Jogos Paraolímpicos do Rio-2016. Ele nasceu na Síria há 27 anos e é amputado dos membros inferiores há quatro anos, quando o local em que estava foi atingido por um ataque aéreo. No exato momento do bombardeio, ele ajudava a uma amigo que havia se ferido em outro atentado, minutos antes.
“Ainda quero voltar para a Síria. Todos sabem o que está acontecendo na Síria, é triste o que se passa lá. Quero aproveitar a oportunidade de estar aqui no Rio de Janeiro, nas Paraolimpíadas, e pedir para que parem com o derramamento de sangue na Síria. Parem. Convoco todos os países, não importa quem vença a guerra, convoco a todos para cessarem com o derramamento de sangue”, pediu, em entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira, 14.
O ataque de bomba do qual Hussein foi vítima causou-lhe severas lesões nas pernas. Sem medicamentos à disposição da população na Síria, conseguiu ser levado em uma cadeira de rodas dentro de um bote de borracha até a Turquia, que ocupa toda a fronteira norte da Síria. Lá, conseguiu asilo, recebeu tratamento médico adequado e, em seguida, mudou-se para a Grécia.
Desde então, adotou o país como sua casa, de onde não pretende mais sair. De lá, tenta manter contato com a família -ele tem 12 irmãos, alguns estão vivos, muitos dos quais ainda moram na Síria. “A comunicação com minha família é muito difícil. Lá falta energia frequentemente, a internet é ruim, eu tento falar com eles pelo menos duas vezes por mês. Mando muita mensagem de texto, que é mais fácil de eles receberem. Espero reencontrá-los quando a guerra acabar”, afirmou.
Além de Hussein, o IPC (Comitê Paraolímpico Internacional, na sigla em inglês) selecionou o iraniano Shahrad Nasajpour para integrar o, até então, inédito time de refugiados na Rio-2016. O sírio é da natação, disputou duas provas de 50m, mas ficou na fase eliminatória.
O iraniano, que vive nos Estados Unidos, que tem paralisia cerebral, participou do lançamento de disco, e terminou na 11ª colocação. Ambos já não se apresentam mais na RIo-2016. “O termo refugiado não me define. Eu não sou refugiado, sou um atleta. Espero que daqui a quatro anos [em Tóquio-2020] não exista mais time de refugiados, porque é sinal de que não haverá mais guerras”, afirmou Hussein.