Terrorista fez greve de fome por mais de um ano e acabou nas Paraolimpíadas

Do UOL, em São Paulo
Julian Finney/Getty Images
Sebastián Rodriguez, ex-terrorista, dono de oito ouros paraolímpicos

O nadador espanhol Sebastián Rodríguez tem uma das histórias mais inusitadas dos Jogos Paraolímpicos. Em um evento cheio de ex-soldados feridos em combate, civis que perderam parte da capacidade de movimento em acidentes ou pessoas que nasceram com má formação ou ficaram doentes, ele está no Rio de Janeiro porque era terrorista.

A história, é verdade, não é assim tão direta. Nos anos de 1980, Chano, como é chamado pelos amigos, fazia parte do grupo armado de extrema-esquerda Grapo. A organização é considerada terrorista pela União Europeia. Em 1984, ele era um dos integrantes do comando que matou um empresário da região de Sevilla.

Ele tinha 25 anos quando foi pego e condenado a 84 anos de prisão pela participação no assassinato e em mais uma série de atentados a bomba na região. E foi na prisão que surgiu o esporte em sua vida. Nos anos de 1990, ele fez uma greve de fome para pressionar as autoridades carcerárias do país a unir os condenados do grupo do qual fazia parte em um mesmo centro de detenção.

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Sebastián Rodriguez em Londres-2012: no Rio de Janeiro, ele disputa três provas
O protesto durou 432 dias. Após diversas internações hospitalares, a falta de alimentação afetou seus órgãos e debilitou as suas pernas, impedindo-o de voltar a andar. Em 1994, Sebastián obteve liberdade condicional graças a uma lei espanhola que estipula a libertação de detentos doentes em estado grave.

Seis anos depois, estava nas Paraolimpíadas de Sydney-2000. Ganhou cinco medalhas de ouro, mas quase as perdeu. Ele informou ao IPC (Comitê Paraolímpico Internacional) que sua deficiência era resultado de um acidente. Quando a verdade apareceu, muitos pediram para que ele fosse banido do esporte. O IPC resolveu manter as conquistas.

Aos 59 anos, ele não gosta de falar do passado. Em 2012, após se tornar o atleta espanhol de maior sucesso em Jogos Paraolímpicos (marca já superada por Teresa Perales), disse apenas que estava arrependido. "Ao longo da minha vida, vi que estava equivocado. Mas tentei corrigir e sigo tentando. Não posso fazer nada sobre o que ficou para trás, mas posso fazer com que o futuro seja diferente'', disse, à BBC. Em 2007, ele recebeu um perdão do governo.

Em cinco edições dos Jogos, Sebastián soma 16 medalhas, oito delas de ouro. No Rio de Janeiro, ainda não subiu ao pódio. Aos 59 anos, foi quinto colocado nos 200m livre e quarto nos 100m da classe S5 – nas mesmas provas em que o brasileiro Daniel Dias foi ouro. Ele ainda disputa os 100m livre S5, no sábado.