Paraolimpíadas

Como 4 paraolímpicos foram mais rápidos que ouro nos 1500 m da Olimpíada

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Tamiru Demisse (Etiópia), Abdellatif Baka (Argélia) e Henry Kirwa (Quênia), medalhistas dos 1500m T13 das Paraolimpíadas do Rio imagem: A.Loureiro/Getty Images

Do UOL, em São Paulob

No domingo, o resultado da final dos 1500 m da classe T13 das Paraolimpíadas chamou atenção. O tempo de 3min48s29 do argelino Abdellatif Baka, portador de deficiência visual, seria suficiente para a conquista do ouro nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Não apenas ele: os quatro primeiros colocados fizeram um tempo melhor do que o do norte-americano Matthew Centrowitz (3min50s00) na final olímpica.

Além de Baka, o medalhista de prata (Tamiru Demisse, da Etiópia, com 3min48s59), o de bronze (Henry Kirwa, do Quênia, com 3min49s59) e o quarto colocado (Fouad Baka, também da Argélia e irmão de Abdellatif, com 3min49s84) fizeram marcas expressivas. O fato viralizou: seriam os quatro os primeiros paraolímpicos melhores do que atletas olímpicos na história? É preciso contextualizar.

Tempo não seria suficiente para classificação nas Olimpíadas

Os 3min48s29 de Baka são um recorde mundial de sua classe. Ou seja: é o melhor tempo que qualquer atleta paraolímpico já marcou na distância. Só que essa marca não valeria nem mesmo uma vaga para as Olimpíadas. O índice exigido pela Iaaf (Federação Internacional de Atletismo) era de 3min36s20, mais de 12 segundos mais rápido do que o tempo paraolímpico.

Nos Jogos Olímpicos, só na final a marca valeria um bom resultado. Na fase eliminatória, o último classificado foi o marroquino Brahim Kazzouzi, com 3min47s39. Na semi, o último a conquistar uma vaga foi Ronald Musagala, de Uganda, com 3min40s37. O próprio medalhista de ouro no Rio de Janeiro foi mais rápido antes da decisão: em suas duas qualificatórias, ele correu na casa dos 3min39s.

Final olímpica foi a mais lenta desde 1932

AP Photo/Morry Gash
Matthew Centrowitz, dos Estados Unidos, comemora conquista da medalha de ouro dos 1500m: na final, ele foi mais de dez segundos mais lento do que seus próprios tempos nas eliminatórias imagem: AP Photo/Morry Gash

A verdade é que a final olímpica é que foi muito mais lenta do que o esperado, e não a paraolímpica mais rápida do que o previsto. Como comparação, os 3min50s00 de Centrowicz são o pior resultado de um campeão olímpico desde Los Angeles-1932, quando o italiano Luigi Beccali venceu com 3min51s2 – a casa dos centésimos de segundo nem mesmo era usada. A última Olimpíada em que o tempo valeria medalha também está distante: a prata do sueco Lennard Strand (3min50s4) foi a última acima dos 3 minutos e 50 segundos.

Em campeonatos mundiais, desde a primeira edição organizada pela Iaaf, nenhum atleta em finais foi tão lento. O pior tempo de um oitavo colocado na decisão dos 1500m foi 3min43s75, em 1983.

Mas qual a explicação para isso? A lentidão da prova olímpica tem muito a ver com a natureza das provas de meia-distância do atletismo. É normal que um atleta, nas primeiras voltas, imprima um ritmo mais forte, para puxar os rivais. Esse corredor é chamado de coelho e, raramente, vence a prova. O problema é que não existem coelhos em provas olímpicas: quem chega à final acredita que pode vencer. Na final do Rio de Janeiro, todos aceitaram o ritmo lento que o norte-americano imprimiu – tanto que ele passou na frente em todas as parciais da prova.

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