Paraolimpíadas

Paraolimpíada tem "super cadeira de rodas" da BMW com tecnologia de F-1

A. Loureiro/Getty Images
Chelsea McClammer disputa a prova dos 400m T53 nas Paraolimpíadas com nova cadeira de rodas imagem: A. Loureiro/Getty Images

Do UOL, em São Paulo

A cadeira de rodas que alguns dos atletas dos EUA nas Paraolimpíadas do Rio de Janeiro tem três letras perto da roda dianteira. E não são USA, de United States of America. A inscrição diz BMW, as três letras da famosa empresa automobilística alemã.

Patrocinadora do comitê olímpico norte-americano, os alemães construíram a cadeira de rodas mais rápida da história, usando tecnologia de ponta usada na criação dos carros mais velozes do mundo. Nos últimos dois anos, engenheiros do braço de design da empresa, baseado na Califórnia, se dedicaram a mudar a maneira como os cadeirantes competem nas Paraolimpíadas do Rio. Usando scanners 3D de corpo inteiro, testes em túnel de vento e modelos criados em impressoras em 3D, foram construídas cadeiras de fibra de carbono, substituindo as antigas estruturas de alumínio.

“A tecnologia das cadeiras de roda de competição atingiu um platô no início dos anos 2000. O material que eu usava em 2006, quando comecei, era praticamente o mesmo que eu usava até o ano passado”, contou Josh George, campeão mundial paraolímpico de maratona, em seu blog. “O motivo para isso é que o mercado é restrito. Se você comparar com as bicicletas, não temos tantas pessoas usando. Não falta gente com dinheiro disposta a gastar milhares de dólares em um aro de fibra de carbono de bicicleta para usar na pedalada do fim de semana, por exemplo. Por isso, não existia investimento em pesquisa”, escreveu.

Nova cadeira é mais leve e menos flexível

BMW USA
Cadeira mais rápida do mundo: BMW usou scanners 3D e simulações em túnel de vento, além de montar a estrutura em fibra de carbono para criar o equipamento mais rápido que os paraolímpicos já usaram imagem: BMW USA
Quem olhar para as cadeiras que estão estreando na Rio-2016 vai perceber grandes diferenças em relação ao material usado anteriormente. Uma cadeira de rodas de competição é um triciclo, com uma roda dianteira e duas traseiras, que o atleta usa para dar impulso. Os quadros, antes, eram feitos de tubos de alumínio. Os ajustes individuais eram feitos pelos próprios atletas, com reforços em plástico e espuma. A empresa alemã, porém, escaneou o corpo dos paraolímpicos e mapeou sua movimentação durante as provas. Com esses dados, criou moldes individuais para cada um deles, feitos de fibra de carbono.

O material, o mesmo usado em carros de Fórmula 1, é mais leve e mais resistente do que alumínio. Ele mantém o formato mesmo sob pressão, ao contrário do alumínio, que se deforma com relativa facilidade. Isso quer dizer que a cadeira que Tatyana McFadden, dona de 11 medalhas paraolímpicas e que pode sair do Rio de Janeiro com até sete pódios, é diferente da George, por exemplo.

“A primeira coisa que percebemos é que ela é muito mais leve e mais dura”, analisou Tatyana na apresentação do equipamento. A dureza é intencional: se o aro de alumínio se deforma, mesmo que temporariamente, durante o impulso, nem toda a energia aplicada vira velocidade. Com a fibra de carbono (mesmo material das próteses usadas por atletas amputados), essa perda de energia é menor.

“Isso quer dizer que você pode ser tão veloz quanto seus rivais fazendo menos força. Em provas mais longas, nos quilômetros finais você terá mais energia guardada do que os outros”, explicou George. Essa deve ser a explicação para o fato de Tatyana ter usado a sua cadeira nova nas eliminatórias dos 100m, mas preferido a antiga, a mesma que usou nos últimos anos, para conquistar o bronze na final. Nas provas de 400m (ela compete em todas as distâncias da classe T54, dos 100m até a maratona) ela voltou a usar o equipamento mais novo.

Essa não é a primeira cadeira de rodas de fibra de carbono criada para competição. Nos últimos dez anos, a Honda trabalhou com o comitê paraolímpico do Japão em equipamentos do gênero. As inovações de design da marca alemã, porém, são inéditas.

O interesse da BMW não é comercial. Como patrocinadora do Usoc (o comitê olímpico dos EUA), a empresa apostou na transferência de tecnologia para ativar seu investimento. Em seis anos de parceria, eles criaram um novo trenó de bobsled, introduziram uma tecnologia de monitoramento de performance para nadadores e uma nova maneira de medição de velocidade para velocistas do atletismo. A ação paraolímpica é a quarta do gênero.

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