Ela tinha que "andar" só com os braços e agora busca sete medalhas no Rio
Tatyana McFadden nasceu na Rússia com uma má-formação na coluna. Nunca andou. Sua mãe biológica, sem condições de manter a filha deficiente, a deixou em um orfanato em São Petersburgo. O local também não tinha condições ideais.
Até os cinco anos, a garota teve de aprender a se mover usando os braços, já que uma cadeira de rodas era um luxo que não estava disponível para os órfãos. É aí que entra Deborah, cadeirante e ativista dos direitos dos deficientes nos Estados Unidos. Em uma visita à Rússia, ela adotou Tatyana e a vida da garota mudou.
Assim que chegou aos EUA, ela se adaptou bem à vida em uma cadeira de rodas. Sua mãe a incentivava a praticar esportes. Natação, basquete, ginástica. Mas foi nas pistas de atletismo, em que a força nos braços conquistada quando tinha de usá-los para se mover pelo orfanato, que as coisas mudaram. Em 2004, ela foi para os Jogos de Atenas com apenas 15 anos. Foi prata nos 100m.
Ao voltar aos EUA, porém, sofreu preconceito: ela tentou fazer parte do time de atletismo de sua escola e foi proibida. Após reclamações da mãe, o técnico a deixou participar dos 400m. Mas depois que todas as outras atletas competiram. Tatyana deu a volta na pista sozinha. “Foi a coisa mais humilhante que já passei”, contou, em entrevista à rádio NPR, dos EUA.
As duas, então, resolveram processar o condado em que moravam pelo direito de praticar esportes dos deficientes. As duas venceram e uma lei estadual (chamada de Lei de Tatyana) foi promulgada, obrigando que as escolas aceitassem deficientes em suas equipes - em 2013, a lei virou federal.
Depois de tanta luta, o status de Tatyana no esporte só aumentou. Ela fez faculdade (participando das equipes de basquete e atletismo) e foi para as duas últimas Paraolimpíadas. Chegou ao Rio de Janeiro com dez medalhas e uma série invicta de quatro anos: desde Londres-2012, ela venceu todas as provas que disputou (incluindo maratonas, com vitórias em Nova York, Boston, Chicago e Londres).
No Engenhão, a série invicta terminou: ela foi prata nos 100m. Mas o desafio é ainda maior. Tatyana está inscrita em todas as provas para cadeirantes da Rio-2016, da mais curta (os 100m) até a mais longa (a maratona, com 42km).
Sobre a mãe de Tatyana
Deborah McFadden, em uma cadeira de rodas por causa da síndrome de Guillain-Barré, fez parte da administração de George Bush entre 1989 e 1993. Ela foi a principal responsável pelo Ato dos Americanos com Deficiência, de 1990, que regula direitos trabalhistas e de acessibilidade no país. Além de Tatyana, ainda adotou outras duas garotas, Hannah, que também é atleta paraolímpica e está na Rio-2016, e Ruthi, que não é atleta – ambas nasceram na Albânia.