Conheça o irlandês paraolímpico que teria vaga no time olímpico do Brasil
Do UOL, em São PauloQuando você pensa em Usain Bolt e seu recorde mundial de 9s58 nos 100m rasos, pode achar que 10s22 não é tão rápido. Mas olhe o atletismo brasileiro. Nesta década, apenas cinco atletas conseguiram correr a distância mais rápido. Em 2016, mesmo sendo um ano olímpico, só dois alcançaram o feito: Vitor Hugo Santos (10s11) e Ricardo de Souza (10s21).
O melhor tempo do irlandês Jason Smyth é justamente 10s22. Essa marca valeria uma vaga na equipe brasileira que disputou os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, ao menos no revezamento (o índice para a prova individual era 10s16). O detalhe: Smyth é um atleta paraolímpico, com visão parcial.
Na sexta-feira, ele conquistou seu quinto ouro nos Jogos Paraolímpicos, na classe T13. Não foi tão rápido quanto seu recorde: venceu no Engenhão com 10s64. O motivo? Sua preparação em 2016 foi feita para os Jogos Olímpicos. Seu objetivo era se tornar o segundo atleta do atletismo a disputar os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos – o primeiro foi o sul-africano Oscar Pistorius, semifinalista dos 400m e do 4x400m nos Jogos de Londres-2012.
Smyth é um dos atletas mais conhecidos da Irlanda. Em 2012, quando conquistou o ouro nos 100m e 200m das Paraolimpíadas de Pequim-2008, começou a ser comparado com Usain Bolt. Os resultados impressionam: ele é dono de três recordes mundiais, conquistou 17 títulos internacionais e está há dez anos invicto em disputas paraolímpicas.
Além disso, seu histórico em provas não-paraolímpicas também é impressionante. Em 2010, ele foi o primeiro paraolímpico a disputar o Campeonato Europeu de atletismo. Foi o primeiro irlandês na história a chegar às semifinais da prova dos 100m.
No Rio de Janeiro, seu sonho era chegar a duas medalhas de ouro – para homenagear a mulher, Elise, com quem se casou no fim de 2012, e a filha, Evie, que nasceu em 2015. Não vai ser possível: ele foi reclassificado para a Rio-2016, saindo da T12 e indo para a T13. Quanto maior o número, menor o grau de deficiência. O problema é que os 200m não são disputados pelos atletas de sua nova classe. Smyth venceu a prova nos Jogos de Pequim e Londres na T12.
Apesar de ter visão parcial e conseguir correr sem o auxílio de um guia, Smyth é considerado legalmente cego – tem apenas 10% da visão. Ele é portador da doença de Stargardt, um defeito genético que afeta sua visão central. O diagnóstico veio aos oito anos. Mesmo assim, nunca deixou de disputar esportes quando era criança. O sonho era virar jogador de futebol, mas mudou quando percebeu que o que fazia diferente era a velocidade, não o talento com a bola nos pés. Desde a adolescência treina atletismo e, em 2005, disputou seu primeiro campeonato internacional.