Paraolimpíadas

Porta-bandeira na Olimpíada, cadeirante trocou taekwondo por tiro com arco

Harry Engels/Getty Images
Zahra Nemati: ouro na Paraolimpíada de Londres-2012 e porta-bandeira na Olimpíada do Rio imagem: Harry Engels/Getty Images

Do UOL, em São Paulo

A iraniana Zahra Nemati chorou quando foi eliminada pela russa Inna Stepanova na primeira rodada da competição de tiro com arco da Olimpíada do Rio de Janeiro. Paraplégica desde os 18 anos, era a única cadeirante competindo na Rio-2016. A rival que a derrotou tinha movimento em todos os seus membros. Mas o choro mostra como a arqueira encara sua condição: é uma característica pessoal, não uma deficiência.

O mundo parece começar a ver o assunto do mesmo jeito. Tanto que ela, mesmo em uma cadeira de rodas, foi a escolhida para carregar a bandeira do país na cerimônia de abertura, dias antes da derrota para a rival russa. Foi uma das mais comemoradas quando entrou no estádio do Maracanã. "Não sou exemplo de nada. Sou uma atleta", costuma dizer.

Mas, nas Olimpíadas, ela era uma exceção. Apenas três atletas voltaram para as Paraolimpíadas (que estão sendo disputadas desde quarta-feira). Além de Zahra, a polonesa Natalia Partyka e a australiana Melissa Tapper, ambas do tênis de mesa, buscam medalhas paraolímpicas. As duas nasceram com deficiência. A iraniana, não. Teve de aprender a lidar com as dificuldades.

Zahra tem 31 anos. Ficou paraplégica aos 18, quando era atleta do taekwondo. Em um acidente de carro, fraturou a coluna. “Para um atleta do taekwondo, perder as pernas é como um pianista perder as mãos”, compara, em documentário do Comitê Paraolímpico Internacional.

Ela passou a se dedicar ao tiro com arco três anos depois do acidente. Hoje, treina com a equipe iraniana de atletas sem deficiência. É a que mais tempo passa atirando e também a dona dos melhores resultados do time. Em 2015, quebrou o recorde mundial paraolímpico e foi vice-campeã asiática. Foi esse segundo lugar que deu a vaga nos Jogos Olímpicos.

Após as emoções olímpicas, porém, a cabeça da iraniana volta para o esporte paraolímpico. E sua situação é bem diferente. Se há um mês ela era "uma história de superação", agora é a favorita, a recordista mundial, a atual campeã, a mulher a ser batida. Em Londres-2012, seu resultado foi histórico. A medalha de ouro foi a primeira de uma mulher do Irã em Olimpíadas ou Paraolimpíadas.

Um feito para um país com costumes rígidos e em que as mulheres travam uma luta intensa por igualdade. “Queria que ninguém no mundo sentisse frustração, especialmente as mulheres e as pessoas com deficiência. Frustração é uma palavra que não deveria ter espaço nas nossas vidas”, diz a arqueira.

Aquele dia mudou a vida de Zarha não apenas pelo resultado. Após o ouro, seu namorado, o também arqueiro paraolímpico Roham Shahabipour, a pediu em casamento. A festa de noivado, e do título olímpico, foi na Vila Olímpica londrina.

Topo