Polícia critica COI e quer ouvir Bach sobre cambismo na Rio-2016

Vinicius Konchinski
Do UOL, em São Paulo
AFP PHOTO / Jack GUEZ
Patrick Hickey, irlandês preso por envolvimento com máfia de ingressos da Rio-2016

Delegados responsáveis pela investigação sobre a venda ilegal de ingressos da Olimpíada 2016 criticaram nesta quinta-feira (8) a postura do COI (Comitê Olímpico Internacional) a respeito do caso. Os policiais disseram que a entidade não tem colaborado com a apuração sobre o comércio irregular de entradas da Rio-2016. O esquema poderia movimentar até R$ 10 milhões, segundo a polícia. 

Um membro do comitê executivo do COI, o irlandês Patrick Hickey, chegou a ser preso no Rio durante a Olimpíada suspeito de envolvimento com a venda irregular. Segundo a Polícia Civil do Rio de Janeiro, Hickey trocou mensagens com o presidente do COI, o alemão Thomas Bach, para tratar de ingressos olímpicos. Devido a essas mensagens e a falta de colaboração do COI sobre a investigações, a polícia agora quer ouvir o próprio Bach sobre o caso.
 
"É interessante para nós ouvir o presidente do COI já que ele foi citado em mensagens", afirmou o diretor geral de Polícia Especializada, Ronaldo Oliveira. "Se não conseguirmos ouvir aqui no Brasil, podemos enviar uma carta rogatória para que ele preste depoimento ainda que no exterior."
 
Ricardo Barbosa, diretor do Nage (Núcleo de Apoio a Grande Eventos), disse que esperava do COI uma atitude proativa com relação à investigação sobre a venda ilegal de ingressos. Ele afirmou que o Comitê Organizador da Rio-2016 tem colaborado, mas o COI nunca procurou a polícia para esclarecer como ingressos olímpicos foram parar com cambistas.
 
"Um membro do COI foi preso, indiciado e acusado pelo Ministério Público", afirmou Barbosa. "Seria bom que alguém do COI viesse aqui dar alguns esclarecimentos."

Troca de mensagens sobre ingressos 

 
O delegado Aloysio Falcão disse que, em mensagens de celular trocadas ainda em julho de 2015, Hickey reclama com Bach da baixa quantidade de ingressos da Olimpíada reservados ao Comitê Olímpico Irlandês. Hickey, além de membro do COI, é presidente do Comitê Irlandês. Está afastado de sua função desde que foi preso.
 
Nas mensagens, Hickey solicita que mais entradas para cerimônia de abertura, final do futebol masculino e de outras sessões olímpicas sejam liberadas ao Comitê da Irlanda. Segundo a Polícia, 296 entradas extras foram providenciadas após as mensagens enviadas por Hickey.
 
A polícia suspeita que alguns dessas entradas foram parar na mão de cambistas. Isso porque boa parte dos ingressos apreendidos durante as investigações da máfia do ingresso da Rio-2016 estavam oficialmente reservados ao Comitê Olímpico Irlandês. 
 
Um inquérito sobre a venda ilegal de ingressos olímpicos foi oficialmente encerrado nesta quinta (7). Dez pessoas, incluindo Hickey, foram indiciadas e já foram denunciadas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. Todos devem responder na Justiça pelos crimes de organização criminosa, cambismo, marketing de emboscada, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro.
 
Além de Hickey, foram, denunciados executivos das empresas Pro10 e THG. Todos são estrangeiros. Nenhum deles está preso, com exceção do irlandês James Kevin Mallon, que cumpre prisão domiciliar no Brasil. Mallon é diretor da THG. A empresa e a Pro10 empresas são acusadas de obter ingressos e revendê-los a preço acima do mercado. 
 
Thomas Bach, presidente do COI, não foi indiciado e oficialmente não é tratado como suspeito pela polícia. Procurado pelo UOL Esporte, o COI informou que vai colaborar com as investigações.