Atletismo paraolímpico sofre vácuo deixado por Pistorius e ex-rivais

Daniel Brito
Do UOL, no Rio de Janeiro
AP Photo/Raissa Ioussouf
Alan Fonteles e Oscar Pistorius posam com as medalhas dos 200 em Londres-2012

Oscar Pistorius deixou um vácuo no movimento paraolímpico que pode ser sentido na abertura das provas de atletismo das Paraolimpíadas do Rio-2016. As provas de 100 m e 200 m do atletismo, na classe para biamputados dos membros inferiores, sofre com uma sequência de fatos que impossibilita o surgimento de um outro atleta que repita na modalidade o que fez o sul-africano, preso sob a acusação de assassinar a namorada em 2013. Os 100 m começarão a ser disputados nesta quinta-feira, 17h40, no Engenhão.

O paraense Alan Fonteles estará na raia. Ele tinha tudo para ser o substituto natural de Pistorius, afinal o venceu na final dos 200m dos Jogos de Londres-2012 e quebrou seus recordes no ano seguinte, no Mundial de Lyon, na França. Mas Fonteles, nascido há 24 anos em Marabá, descuidou do físico em 2014. Não conseguiu retomar à antiga forma no ano seguinte. Ganhou quilos e perdeu performance.

Foi superado pelo americano Richard Browne no Mundial de Doha, no Qatar, no ano passado. Brownee, no entanto, não estará no Rio, porque foi vítima de um acidente de carro e o tempo para recuperar-se não era suficiente para entrar em forma e disputar o ouro nessas Paraolimpíadas.

Os Estados Unidos tinham também outro atleta com potencial: Blake Leeper. Assim como Fonteles e Pistorius, é biamputado (Browne é amputado da perna esquerda) e rivalizava com o brasileiro após a saída do sul-africano. Leeper, no entanto, foi flagrado no exame antidoping por uso de cocaína. Suspenso, está distante das competições há mais de um ano.

O inglês Jonnie Peacock, 23, amputado da perna direita, é o bom garoto da prova, mas não empolgou o mercado e o público além do Reino Unido porque é especialista apenas nos 100 m.

Assim, as provas que eram tidas como as de maior apelo de público, estão esvaziadas de ídolos. Basta lembrar que, em Londres-2012, Pistorius era o garoto-propaganda dos Jogos para o mercado de fora da Inglaterra. As sessões em que corria tinham lotação esgotada, com mais de 60 mil pessoas pagando ingresso para vê-lo. Era chamado de “Blade Runner”, estrelava comerciais de marcas de óculos e até de tênis, embora não tenha pés devido à amputação nos primeiros meses de vida após uma infecção. A queda para Alan Fonteles na final dos 200 m silenciou o Estádio Olímpico londrino.

O IPC (Comitê Paraolímpico Internacional, na sigla em inglês) ainda segue na busca de um biamputado para substituir o papel desempenhado por Oscar Pistorius antes de sua prisão. Na primeira coletiva de imprensa da semana, foi apresentada aos jornalistas que não acompanham o movimento paraolímpico a holandesa Marlou van Rhijn, amputada das pernas abaixo dos joelhos, e ouro nos 100 m em Londres-2012. Seu apelido é “Blade Baby”.

Com os homens começando do zero na busca pelo estrelato paraolímpico, resta saber se ela tem carisma e performance para ocupar este papel na história dos Jogos do Rio-2016.