Salto radical, "Maracanã cego" e Clodoaldo são destaques da abertura
Bruno Braz e Daniel BritoDo UOL, no Rio de Janeiro
Os Jogos Paraolímpicos do Rio de Janeiro tiveram abertura oficial em cerimônia nesta quarta-feira (7), com direito a salto radical em megarrampa, mudança de roteiro na última hora, exaltação de símbolos tipicamente cariocas e até um momento de "Maracanã cego" - um dos pontos altos da festa, quando as luzes do estádio foram apagadas para estimular outros sentidos do público.
Clodoaldo Silva, nadador dono de seis medalhas de ouro paraolímpicas, todas conquistadas em Atenas-04, foi o responsável por acender a pira paraolímpica.
Também chamaram a atenção o quebra-cabeça montado com as peças trazidas por cada delegação, com a imagem de um coração pulsante ladeado por flores, e a entrada da bandeira paraolímpica no estádio, carregada por crianças com deficiência motora, acompanhadas de seus país. Os presentes, de pé, aplaudiram a cena.
Salto radical abre os Jogos
Após contagem regressiva no Maracanã, a Paraolimpíada foi oficialmente inaugurada com o salto do cadeirante Aaron Wheelz na “megarrampa” – aquela mesma dos skatistas. O homem passou por dentro de um número zero, deu um mortal e caiu em um colchão. E levantou o público.
Antes da cerimônia, Leo Caetano, diretor de cerimônias do Comitê Rio 2016, explicou a intenção da cena: “Haverá o salto de uma megarrampa, e será feito por um cadeirante. O objetivo é que o público veja que se tratam de coisas espetaculares, mas não porque são feitas por pessoas com deficiências. São coisas incríveis porque são coisas incríveis, ponto".
O primeiro paratleta brasileiro a aparecer na festa de abertura foi Daniel Dias, nadador dono de 11 medalhas de ouro paraolímpicas, mostrado em projeção atravessando o palco a nado. As projeções também foram marca das cerimônias de abertura e encerramento da Olimpíada.
Clodoaldo acende a tocha com lição de inclusão
O nadador brasileiro Clodoaldo Silva, que além de seis ouros soma também cinco pratas e dois bronzes paraolímpicos, acendeu a pira.
A tocha entrou no Maracanã com o corredor Antônio Delfino, dono de dois ouros e uma prata. Depois, passou para as mãos da ex-paratleta Márcia Malsar, que sofreu uma queda e se levantou sozinha, sob aplausos. Ela é a primeira mulher a ganhar medalha paraolimpica para o Brasil A também ex-paratleta Ádria Santos foi quem pegou o fogo na sequência e o entregou a Clodoaldo.
Clodoaldo Silva promoveu lição de inclusão. O paratleta viu seu caminho ser dificultado por uma escada, que logo se transformou em uma rampa para que pudesse chegar à pira. A ideia da organização foi deixar claro que não é preciso ter escadas e rampas, mas apenas rampas, já que todos conseguem se locomover por elas.
"Fora, Temer", filas longas e... Gisele?
Mesmo antes de a cerimônia começar no Maracanã, três episódios chamaram a atenção: dentro do estádio, o público, em coro, protestou contra o presidente da República, Michel Temer, com gritos e vaias. O "fora, Temer" ouvido nas arquibancadas durou cerca de 10 segundos.
Temer, aliás, foi alvo de protestos em mais duas oportunidades, ambas com a festa em andamento: no momento do hino brasileiro, tocado no piano pelo maestro João Carlos Martins, e quando decretou a abertura das Paraolimpíadas, em breve fala.
O mascote Vinícius promoveu momento de descontração para alegrar os presentes. Ele reproduziu uma das partes mais elogiadas da abertura das Olimpíadas do Rio, quando a modelo Gisele Bündchen atravessou o Maracanã em desfile de mais de 100 metros - e o fez vestindo um vestido igual ao da estrela.
O ponto negativo da "pré-festa" foi visto do lado de fora: longas filas irritaram quem compareceu ao evento. A do portão D, caso mais crítico, chegou a 1,8 km de distância.
Um show bem carioca e o hino nacional
Logo no início, a cerimônia teve roda de samba com Xande de Pilares, homenagem ao músico Cartola, representação de uma manhã na praia – com direito a barracas, surfistas, areia, água, vendedores de mate... – e referência aos aplausos ao pôr do sol no Arpoador.
Os signos bem cariocas foram seguidos pelo hino nacional, tocado no piano pelo maestro João Carlos Martins. Este era um dos momentos mais esperados do evento, e se consolidou como um dos mais emocionantes. Ao fim, o público, de pé, o aplaudiu.
Mudança de roteiro na última hora
As delegações entraram em cena antes do previsto por pedido dos paratletas, que queriam assistir ao máximo possível da cerimônia. A solução encontrada foi realizar a apresentação das estrelas logo depois do hino brasileiro (parte do show que durou cerca de 1h50) para logo depois darem sequência ao espetáculo.
A porta-bandeira do Brasil foi Shirlene Coelho, atual campeã paraolímpica no lançamento de dardo – e medalhista de prata em Pequim-2008. Ela foi escolhida por voto dos paratletas - os que têm competição agendada para a manhã de quinta-feira, como Daniel Dias, estavam fora da disputa.
Os brasileiros, é claro, foram os mais festejados, aplaudidos de pé por todo o estádio - até Temer, ao lado da mulher, levantou-se. Foi a única vez que a música deixou de ser uma batida genérica: os paratletas do país-sede entraram no Maracanã acompanhados pela música "O Homem Falou", de Gonzaguinha. A modelo e apresentadora Fernanda Lima entrou no estádio junto às estrelas nacionais.
Espanha e Estados Unidos se mostraram as delegações mais animadas na entrada. Vale destaque também para Tonga: lembra do "besuntado" da Olimpíada? Então, os porta-bandeiras dos paratletas na Paraolimpíada também se apresentaram com os corpos brilhando. Veja abaixo.
O quebra-cabeça: coração pulsante
Uma das maiores expectativas da cerimônia de abertura era a montagem do quebra-cabeça das delegações - cada uma entrou com uma peça no Maracanã. No fim, com a última peça sendo a brasileira, a imagem montada, com ajuda de uma projeção para dar movimento, foi a de um coração pulsante, ladeado por flores.
Maracanã no escuro
Logo depois dos discursos de Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), e Philip Craven, presidente do Comitê Paralímpico Internacional (CPI), e do presidente da República, Michel Temer, decretar abertura oficial dos Jogos, o espetáculo continuou. E "cegando" o Maracanã.
As luzes foram apagadas para estimular os outros sentidos do público. Bailarinos carregaram bastões iluminados, que representam guias usadas por pessoas com deficiência visual.
"Este é um ponto central da cerimônia desde o início do processo criativo. Queremos derrubar essa coisa da necessidade da visão, do 'ver para crer'. O público vai ser instigado a usar todos os sentidos", explicou Fred Gelli, um dos diretores criativos da cerimônia.
Entrada da bandeira paraolímpica emociona público
O público se emocionou com a entrada da bandeira paraolímpica no estádio do Maracanã, carregada por crianças com deficiência motora acompanhadas de seus pais.
Cada dupla formada por uma criança e um adulto vestia uma espécie de macacão que os unia. O movimento era dado pelas pernas dos pais, e a felicidade de todos os protagonistas foi contagiante.