Paraolímpicos encerram era de grandes eventos no país como "primo pobre"

Daniel Brito
Do UOL, no Rio de Janeiro
PAWEL KOPCZYNSKI/REUTERS
Visão geral do Maracanã durante o início da festa de encerramento

Os Jogos Paraolímpicos do Rio-2016, que celebram abertura em cerimônia a partir das 18h, no Maracanã, marcam o fim de uma era de grandes eventos esportivos no Brasil. Apesar do forte cunho social, eles chegam na condição de "primo pobre" de uma sequência de eventos de amplitude mundial que passaram pelo país nos últimos anos. Enfrentou dificuldades financeiras, passou por cortes no orçamento, teve de pedir socorro aos cofres do governo, é tratado sem o mesmo destaque pela mídia, os atletas têm pouco reconhecimento do grande público, e sofreu para fazer engrenar a participação da torcida.

Somente na véspera da abertura o Comitê Organizador pôde dizer que ultrapassou a barreira de 1,6 milhão de ingressos vendidos, de um total de 2,5 milhões. É um número inferior aos Jogos de Londres-2012, quando 15 dias antes do início da competição mais 2,1 milhões já haviam sido comercializados.

Os Jogos Paraolímpicos não tem o engajamento popular de um torneio de seleções de futebol, como foram a Copa das Confederações, em 2013, que abriu a temporada de grandes eventos no Brasil, e, posteriormente, a Copa do Mundo. Nem o glamour dos Jogos Olímpicos, encerrados em grande estilo em 21 de agosto, com uma sequência de três medalhas de ouro para o país (futebol masculino, vôlei de praia, e vôlei de quadra masculino).

Há duas semanas, antes do fim dos Jogos Olímpicos, o presidente do IPC (Comitê Paraolímpica Internacional, na sigla em inglês), Sir Philip Craven, vaticinou: “Esta é a pior situação que nós já nos encontramos no movimento paraolímpico. Estamos cientes das dificuldades, mas não sabíamos que era tão crítica como está."

Porém, o panorama mudou e o IPC reconhece que sua opinião sobre os Jogos também já é diferente. “Tivemos muito progresso em um espaço curto de tempo. Saímos da marca de 200 mil ingressos vendidos em agosto para mais de 1,6 milhão e este número não para de crescer. O fato de a delegação olímpica brasileira ter encerrado de forma tão brilhante os Jogos Olímpicos, com os três ouros, deu um sabor do que os cariocas vão experimentar nos Paraolímpicos, com a perspectiva de o Brasil ficar entre os cinco melhores no quadro de medalhas”, disse Craig Spence, diretor de comunicação do IPC.

Se atingir a marca dos 1,7 milhão de ingressos vendidos, Rio-2016 superará Pequim-2008 em termos de público nas arenas. Por outro lado, o IPC acredita em acumular uma audiência de 4 bilhões de pessoas pela TV e transmissão na internet.

Financeiramente, os Jogos Paraolímpicos foram afetados com cortes no orçamento. E o Comitê Organizador do Rio-2016 teve de pedir R$ 250 milhões aos governos federal e municipal. Novos patrocinadores estatais aderiram ao evento (Loterias da Caixa, Petrobras e Apex). A prefeitura do Rio contribuiu com um convênio de R$ 150 milhões, dos quais R$ 30 foram utilizados para pagar passagens de atletas, dirigentes e até dos cavalos das disputas de hipismo para o Rio de Janeiro - era um compromisso de campanha.

O Comitê Organizador tem uma leitura diferenciada das dificuldades financeiras encontradas para realizar as Paraolimpíadas. “É importante que tenhamos atingido um legado em diferentes áreas. Quando menciona-se os cortes no orçamento, nós acreditamos que foi muito importante para os Jogos Olímpicos e agora para os Jogos Paraolímpicos. Porque vocês devem ter acompanhado pela imprensa, o Brasil vem de ações importantes da Justiça contra corrupção e o escândalo da Petrobras é icônico. Então, para nós, o fato de entregarmos um evento global tão grandioso dentro dos limites de um orçamento balanceado é um grande legado. Ter um orçamento balanceado sem prejudicar a experiência, principalmente dos atletas e do público, mas provendo uma experiência de forma inteligente, vamos deixar um grande legado para o Brasil”, analisou Mario Andrada.  

A cerimônia de abertura contará com a participação de 500 profissionais, entre artistas e coreógrafos, além de 2 mil voluntários. Um dos pontos altos da festa promete ser a participação da snowboarder Amy Purdy, bi-amputada das pernas, que brilhou no “Dance with the stars”, programa de TV dos Estados Unidos.

O maior evento para pessoas com deficiência reunirá mais de 4 mil atletas de 169 países, além de um time de refugiados. A cerimônia, que já está com os ingressos esgotados, tem a direção de Vik Muniz, Fred Geli e Marcelo Rubens Paiva.