Jornalistas gringos criticam estrutura e elogiam simpatia dos brasileiros
Dezessete dias de competições deixaram o Rio de Janeiro em evidência pelo mundo inteiro. Afinal, a Rio-2016 foi um sucesso ou ficou devendo? O UOL Esporte entrevistou dez jornalistas experientes, com pelo menos três coberturas olímpicas na bagagem, e de vários países (Japão, China, Coreia do Sul, Holanda, Inglaterra, França, Itália, Senegal, Austrália e Estados Unidos) para saber a avaliação deles da Olimpíada sediada no Brasil. Veja abaixo o que eles falaram.
Duncan Mackay, Inside The Games, Inglaterra
O que mais gostou
Eu acho que a melhor coisa do Rio é a cidade mesmo, as paisagens. Copacabana é maravilhosa e fica muito bonita na TV, mas eu acho que tiveram sete anos e não cumpriram as promessas que fizeram, o que tem a ver com a economia. Apesar disso, eu acho que o Rio fica fantástico na televisão.
O que mudaria
A internet é muito devagar, a comida é ruim, eu passo tanto tempo aqui [Centro de Mídia do Parque Olímpico], passo muito tempo no trânsito. Eu tenho que me programar duas horas para sair daqui para Copacabana. Ninguém liga para os jornalistas, mas tem muita dificuldade. Eu acho que Rio perdeu a oportunidade de usar a marca dos Jogos e mostrar a cidade melhor do que ela é. Eu daria nota 6.
Hendrik Stouwdam, NRC Handelsblad, Holanda
O que mais gostou
É uma questão difícil, porque a organização não está boa. Comparando a outros, é um dos piores Jogos Olímpicos em termos de organização. Me perdoe por isso. Não há nenhuma estrutura aqui no centro de imprensa. Não tem como ir comprar café sem enfrentar uma grande fila e se pagar muito. Vivemos em um hotel sem um restaurante na área, por exemplo. Nós damos um jeito, mas também tem a questão dos ônibus que nunca estão no horário. Os locais de provas estão “ok”, mas não todas. O centro de hóquei, por exemplo, quando começa a chover não dá para trabalhar. O que mais surpreende a mim é que quase ninguém vai para o Estádio Olímpico e não está cheio. Nos outros tinha tanta gente, a atmosfera. Eu acho que os Jogos Olímpicos são muito grandes para o Rio. E ainda tem a questão do trânsito. A locomoção é muito demorada de um lugar para outro. Às vezes isso me deixa louco. Eu acho que Rio é ótimo para se passar as férias, mas não para os Jogos. A cidade é linda, mas se você tem que trabalhar nos Jogos e se leva uma hora de um lugar para outro, é um problema.
O que mudaria
Tudo, o trânsito, os locais da imprensa, os ônibus, mas eu entendo que o problema é o dinheiro que não se tem para a organização. Se não se tem dinheiro, não se tem dinheiro extra é um problema. Tem outro problema ainda que é difícil achar um caixa eletrônico. Eu não vou reclamar muito não é uma cidade ruim. Eu acho que os jogos são grandes demais para a cidade.
Gong Bing, Xinhua, China
O que mais gostou
Não estou satisfeito. Como os ônibus não são pontuais, a gente tem que esperar uma hora às vezes, é diferente de outros Jogos como em Pequim, por exemplo. Acho que se melhorassem isso seria melhor. Eu tenho que acordar muito, muito cedo para não perder as competições porque os ônibus não são pontuais. Eu acho que os voluntários são o ponto alto. Algumas vezes eu não consigo achar as coisas e eles conseguem me ajudar a achar. Eles estão preparados, é um ponto alto.
O que mudaria
Eu mudaria essa questão da pontualidade.
Mas eu acho que o Brasil é um grande país e eu acho que é a primeira vez em que a América Latina recebe os Jogos e acho que é esse o espírito olímpico. Brasil precisa dos Jogos e os Jogos também. Nos últimos três anos a economia está caindo e isso é um problema para o Brasil e é por isso que as pessoas têm opiniões assim.
Kim Dong Chan, Yonhap, Coreia do Sul
O que mais gostou
Eu acho que o Parque Olímpico tem muitos locais de prova e as arenas são muito próximas umas das outras. Eu posso chegar de uma para outra muito rápido. Eu posso sair da esgrima e ir para o handebol muito rápido. Isso é muito bom sobre essa Olimpíada. Eu acho que as pessoas são muito gentis. Esta é minha quarta vez no Brasil, mas especialmente desta vez, antes de vir muitas pessoas ficavam falando sobre problemas do Rio, sobre como a cidade é perigosa e há muitos crimes. Então as pessoas me falaram para ter muito cuidado, mas eu estou aqui e eu me sinto muito confortável e seguro. Eu acho que as pessoas são muito gentis e isso é muito importante para pessoas de fora.
O que mudaria
Eu acho que os ônibus de mídia são muito importantes para nós, o tempo é muito importante, mas os ônibus nunca estão na hora certa. Quando se olha no aplicativo fala uma hora e às vezes chegamos lá e simplesmente não tem ônibus lá. Isso é um problema para os jornalistas. Eu não perdi nenhum compromisso, mas é uma espera muito grande. A hora é muito importante para os jornalistas.
Jacquelin Magnay, The Australian, Austrália
O que mais gostou
As pessoas são muito amigáveis e os voluntários também. Há muitos problemas aqui e como as pessoas estão cuidando disso, deixam de fazer suas coisas para ajudar. Transporte, serviços, os locais de provas. Mas a atmosfera... Eu fui a um jogo de tênis de mesa e só parei no momento que eu estava indo embora, e não era nem do meu país, mas o local estava cheio de brasileiros e a atmosfera era ótima. Poderia ser assim em todos.
O que mudaria
Eu mudaria a distribuição dos ingressos. Eu gostaria que mais brasileiros conseguissem curtir os Jogos, especialmente os mais pobres. Eu gostaria que eles conseguissem aproveitar também.
Wakako Yuki, Yomiro Shimbun, Japão
O que mais gostou
Eu gosto muito das pessoas, os brasileiros. O jeito que as pessoas tentam te ajudar de qualquer maneira quando se pergunta algo. As pessoas podem não saber como ajudar no primeiro momento, mas eles vão tentar, é a generosidade do brasileiro.
O que mudaria
Eu não gostei do trânsito e também há muita fila para as coisas. Há tantos problemas pequenos acontecendo todo dia e coisas que podem ser evitadas se tudo tivesse sido feito antes e tivesse tido mais tempo para testar as coisas. Os serviços para as pessoas, as funções das pessoas, como operar o transporte, a segurança. Essas são dificuldades em todos Jogos, mas se você se prepara antes isso conta de verdade para que não aconteça. Infelizmente, o Rio não teve muito tempo para isso e precisou usar os próprios Jogos para os testes, então as coisas acabam saindo erradas. Agora, no final, vemos os Jogos mais tranquilos.
Scott Price, Sports Illustrated, Estados Unidos
O que mais gostou
O espírito do povo brasileiro. Os voluntários estavam sob grande pressão, mas nos ajudaram mesmo em momento de ineficiência, como problemas com comida e transportes, e o transporte não estava tão ruim, a atitude foi do povo brasileiro sempre foi otimista, fazendo tudo que eles podiam para poder ajudar
O que mudaria
Eu mudaria o fato de o país estar passando por um incrível problema econômica e uma crise política, para mim isso afetou a percepção de muitas pessoas de fora e o entusiasmo das pessoas do país. Por causa disso, é quase impossível julgar a qualidade desses Jogos, porque é como se o Rio tivesse uma mão amarrada às costas, às vezes até duas. Como se não tivesse todos as suas ferramentas, os músculos livres, para ser capaz de mostrar ao mundo o que os Jogos no Brasil poderiam ser. Então me sinto mal pelo brasileiro porque eu sinto que estavam tipo constrangidos quando começou esses Jogos. Sete anos atrás, o país estava forte, entusiasmado, que ia ser fantástico, e de repente a base ruiu. Então acho que deveriam estar orgulhosos porque poucos países conseguiriam deixar isso de lado. O que eu mudarei é que gostaria de ver os Jogos com o Brasil forte, orgulhoso e feliz, e que pudéssemos ter uma foto clara do espírito brasileiro, e não só do espirito sob pressão
Bamba Kasse, Know More Comunication, Senegal
O que mais gostou
Eu gostei das pessoas, não só nas arenas, mas as pessoas em geral, mesmo aquelas que não conseguiam ver as competições, viveram os Jogos, isso foi muito legal, o povo brasileiro é realmente muito legal
O que mudaria
Acho que o Comitê da Rio-2016 fez o melhor que eles podiam, mesmo com alguns problemas. Eu mudaria em relação à estrutura aos jornalistas, como a falta de água, de comida, às vezes tem muito jornalista num evento e não dava tempo de sair para comprar água e comida, mas no geral acho que foi um grande evento
Mattia Chiusano, La Republica, Itália
O que mais gostou
Eu gostei das competições, tivemos resultados históricos. Gostei do sentimento brasileiro, da cerimônia de abertura, foi barata, mas cheia de vida. E eu gostei também dos visuais
O que mudaria
Eu acho que é difícil aqui porque os táxis têm limites muitos duros, não podem vir para nos pegar, então você pode sair daqui [Parque Olímpico], mas voltar é muito difícil. Nós desistimos de ir para Copacabana para almoçar, para jantar, estamos sempre trabalhando e levamos uma hora e meia para nos locomover, e isso nunca aconteceu nos Jogos que eu cobri, ser tão isolado. Então quando acabamos de trabalhar, estamos aqui, e não temos possibilidade de sair. Foi muito difícil trabalhar, e nós não podemos nos divertir como no passado. E tinham muitos eventos que estavam vazios, não tantas pessoas nas competições, na última Olimpíada em Londres estava sempre cheio, mas nós entendemos que é a primeira Olimpíada na América do Sul, e tem a crise no país, com os preços do ingresso muito altos. Às vezes nós que viemos de uma experiência na Europa, pensamos que havia algo de errado acontecendo aqui, mas temos que pensar em todo o esforço que o Brasil fez nos últimos anos para organizar esse Jogos
Jerome Cazadieu, L’Equipe, França
Eu acho que estou desapontado pelo Atletismo, porque o Estádio Olímpico é longe da vila, e normalmente, comparado com outras Olimpíadas, em Pequim, Londres, sempre foi o coração do Parque Olímpico. E poucas pessoas no Estádio Olímpico, foi uma grande decepção. O atletismo é tradicionalmente um evento principal nos Jogos. Acho que a organização tinha que ter tentado encontrar uma solução, porque os ingressos são muitos caros, eu consigo entender que para muitas pessoas do Brasil não é acessível, muito dinheiro para pagar ingressos. Acho que só no segundo dia, quando Bolt ganhou sua primeira medalha de ouro, o estádio estava cheio, mas depois disso, talvez tinha 5 mil pessoas assistindo ao atletismo.