Serginho é eleito MVP da Olimpíada: "não devo mais nada a ninguém"

Guilherme Costa, Gustavo Franceschini e Leandro Carneiro
Do UOL, no Rio de Janeiro

Serginho, 40, completou a história neste domingo. Jogador mais velho da seleção brasileira de vôlei masculino na Rio-2016, o líbero foi um esteio técnico e emocional do grupo durante a campanha que culminou com a conquista do ouro olímpico – algo que o time comandado por Bernardinho não conseguia desde 2004. Instantes depois, tirou a camisa e a colocou na quadra, como se estivesse aposentando o uniforme. Para coroar isso, ele conquistou o prêmio de melhor jogador.

A princípio, a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) havia divulgado o Wallace como melhor jogador, mas ele conquistou apenas o prêmio de melhor oposto. Bruninho e Lucarelli foram premiados em suas posições.

“Eu não devo mais nada para ninguém. Só quero ir para casa Não devo nada para nenhum filho, e eles não têm mais por que ficar me cobrando ou dizendo que não viram o outro ouro. Agora eu só quero ir para a minha casa e tomar minha tubaína. Acabou, graças a Deus. Vou voltar para minha vida normal”, disse Serginho após a conquista.

Voltar para vida normal, no caso do líbero, inclui uma série de atividades cotidianas que ele vinha negligenciando em nome do vôlei. Serginho é tido por outros atletas como um exemplo de dedicação – a despeito de ter rotinas especiais de treinamento por causa da idade e da limitação física resultante de intervenções cirúrgicas no joelho e nas costas.

“Preciso tomar tubaína e comer um frango com pirão da minha mãe ou o bolo de cenoura com chocolate. Quero buscar meus filhos na escola e quero viver, cara. Vou voltar a ser o Sérgio normal. Isso aqui passa”, avisou o jogador, que não pretende sequer guardar o último ouro olímpico em um lugar especial: “Eu tinha dois sonhos. Um eu realizei, que era ser jogador de vôlei. O outro é parar de jogar. Preciso parar com essa desgraça. Já larguei minha camisa lá para não me chamarem de novo. Nem sei o que aconteceu com ela”.

A trajetória de Serginho é uma das histórias mais relevantes no elenco que conquistou o ouro em 2016. O líbero havia se aposentado da seleção, mas foi convencido pelo técnico Bernardinho a voltar para o grupo. Além das questões técnicas, adicionou ao elenco as características mais marcantes em sua personalidade – a vibração, principalmente.

Foi Serginho um dos responsáveis por chamar atenção do grupo depois de um início ruim do Brasil na fase de grupos da Rio-2016. A seleção da casa havia perdido jogos para Estados Unidos e Itália e precisava bater a França na última rodada da fase de classificação se quisesse manter a chance de ouro.

“A gente teve uma conversa muito legal no apartamento, e eu falei para eles: eu me sentia na UTI, mas queria lutar pela minha vida. Os caras fizeram isso, entenderam e brigaram. É minha última Olimpíada. Minha última tentativa de ser bicampeão olímpico, e os caras me ajudaram. A maioria ali ainda tem outro ciclo olímpico, mas eu não vou ter mais essa chance. Eles entenderam o recado, e isso foi gratificante. Falei desde o primeiro dia em Saquarema que essa dedicação seria fundamental”, encerrou o líbero.