"Isso estava engasgado", diz Wallace após ouro olímpico no vôlei masculino
Guilherme Costa, Gustavo Franceschini e Leandro CarneiroDo UOL, no Rio de Janeiro
O oposto Wallace, 29, aproveitou a conquista do ouro olímpico na Rio-2016 para desabafar. Neste domingo (21), logo depois de a seleção brasileira ter vencido a Itália e de ter encerrado um jejum conquistas no vôlei masculino, o jogador admitiu que a situação vinha pressionando o grupo e criticou o comportamento de alguns torcedores.
“Isso estava engasgado. Eu estava me preparando para falar. A gente ganhou. Para esses que só sabem criticar e não sabem falar sobre coisas boas, eu só tenho a dizer que dedico esse título aos que torcem pela gente na vitória e na derrota. Esses merecem a nossa dedicação e o nosso empenho. Do resto eu não faço questão”, avisou Wallace, que anotou 20 pontos na decisão. "Eu não me ligo muito nessa questão de quantidade, não. Me importo mais com a efetividade, e nesse quesito nós fomos bem", completou.
A Rio-2016 foi a segunda participação do oposto em Jogos Olímpicos. Ele já havia sido convocado para Londres-2012, quando chegou ao grupo como um atleta pouco conhecido e ganhou espaço durante a competição. Acabou aquela edição como um dos destaques da seleção e não saiu mais da formação titular, mas deixou o Reino Unido sem saber como era obter uma medalha de ouro.
“O sabor é doce, né? Nós tivemos o sabor amargo de perder uma final de novo há alguns meses, contra a Sérvia, e quando a gente perdeu esse jogo na Liga Mundial a gente disse que não era possível. Pô, mais um ano! A gente chegou aqui desacreditado pelos outros, como sempre. Quando a gente ganhou os dois primeiros jogos, não fez nada mais do que a obrigação. Quando perdeu os dois seguintes, já sabiam. Falaram que a gente não ia nem classificar, mas a gente passou da França e da Argentina. Aí falaram que a gente não passaria da Rússia, mas a gente passou. Falaram que a gente ia ser prata de novo, então”, contou o jogador.
Antes dos Jogos Olímpicos, a seleção brasileira de vôlei masculino não vencia um título relevante desde 2010. O jejum foi agravado neste ano, na Liga Mundial, em uma derrota para a Sérvia. Além disso, os questionamentos foram ampliados pelo desempenho claudicante dos anfitriões na fase de grupos – derrotas para Estados Unidos e Itália e classificação apenas na última rodada, em uma vitória sobre a França.
“O que essa equipe treinou não está escrito. É por isso que a gente ficava chateado: a gente treinava como cavalos, mas no momento decisivo não conseguia pegar a medalha de ouro. Em todas as horas a gente falava: ‘Pô, a gente perdeu a Liga Mundial de novo, chegou aqui com jogadores machucados, com dores, mas dentro de casa a gente não podia perder mais uma chance’. A equipe mudou a postura naquele jogo contra a França, e isso fez toda diferença”, finalizou Wallace.
Após a final contra a Itália, Wallace ganhou elogios de Bernardinho, que classificou o desempenho do oposto ao longo da competição como "exuberante".
Em tom de desabafo, o oposto lembrou que os jogadores receberam uma série de críticas por atuações recheadas de altos e baixos na fase inicial. O início da arrancada para o ouro, segundo ele, foi o jogo contra a França, que selou a classificação às quartas de final.
“Começou naquele jogo decisivo contra a França. Até então, ninguém acreditava na gente. Muitos comentários aleatórios de que não passaríamos das quartas e nem da semi. Chegamos na final. Eram muitos comentários de “ah, beleza, vão ser prata de novo”. Então fica a dica aí para quem falou isso. Vão ter que dormir com essa”, desabafou.
Aliviado por não “bater mais na trave”, o oposto brincou que pretende “tirar férias de dois anos” após a conquista do ouro.
“Isso aqui representa tudo. Quero tirar férias de dois anos. Estou brincando. É o principal título para um atleta. De tudo que já joguei, é o melhor título da minha carreira”, destacou.