! Camareiras da Vila Olímpica são roubadas e levam gás de pimenta na cara - 21/08/2016 - UOL Olimpíadas

Olimpíadas 2016

Camareiras da Vila Olímpica são roubadas e levam gás de pimenta na cara

Adriano Wilkson

Do UOL, no Rio de Janeiro

Um incidente revoltou centenas de camareiras e camareiros que atuam arrumando os quartos dos atletas da Vila Olímpica na última terça-feira (16). Alguns se feriram e foram parar no hospital. Outros também tiveram objetos pessoais roubados.

A maioria recebeu gás de pimenta na cara e se sentiu humilhada por agentes da Força Nacional. Pelo menos uma pessoa denunciou ter sido agredida. Cerca de 15 foram à 42ª delegacia de polícia, no Recreio, fazer boletim de ocorrência.

Dezenas de trabalhadores contaram a história ao UOL Esporte sob a condição de não serem identificados por temerem retaliações. Mais tarde, a Adecco, terceirizada suíça que contratou os funcionários, confirmou detalhes do incidente. A organização Rio-2016 disse “lamentá-lo” e já ter “trabalhado para resolvê-lo”.

Tudo começou na terça de manhã. Por causa de várias denúncias de furtos que a polícia ainda investiga, as camareiras (em geral mulheres negras, pobres e com pouca instrução formal) foram impedidas de trabalhar com bolsas e mochilas e tiveram que deixar seus objetos pessoais em um contêiner na entrada da Vila Olímpica.

As bolsas foram lacradas com uma fita plástica para evitar que fossem remexidas.

No fim do expediente, centenas de trabalhadores saíram ao mesmo tempo para recuperar seus pertences. A Adecco não soube precisar quantos, mas disse que tem cerca de 700 empregados divididos em três turnos. O turno que sai à tarde é o mais numeroso.

Faltou luz no contêiner, e os trabalhadores não conseguiram encontrar suas bolsas. Alguns acharam que estavam sendo roubados. Houve acusações de furtos, gritaria e corre-corre. Uma senhora de 57 anos caiu sobre uma pedra perto do contêiner e machucou os glúteos e o tornozelo. A Força Nacional foi chamada e agiu espirrando gás de pimenta para dispersar o tumulto.

A senhora de 57 anos sentiu a garganta fechar quando inalou o gás. “Me senti humilhada”, diria ela mais tarde. Quando finalmente encontrou sua bolsa – contaria ela ao escrivão da polícia – deu falta de um par de tênis, um vestido longo, uma garrafa térmica, a xerox de sua identidade e seu remédio para pressão.

Empresa confirma relatos de funcionários

“O que a gente sabe é mais ou menos o que você sabe”, afirmou Soralli Rios, gerente jurídica da Adecco do Brasil, de São Paulo, quando a reportagem relatou a história contada pelas camareiras. “Foi uma intervenção da qual não tínhamos conhecimento, nos pegou de surpresa. É complicado lidar com isso porque estamos submetidos a regras de um espaço que não é nosso. Tive relatos de funcionários de que houve uso de spray [de pimenta] mas não tenho ingerência nisso.”

A Adecco afirmou também que levou seus funcionários machucados e que tiveram pertences roubados ao hospital e à delegacia para registrar queixa.

Procurado, o comitê organizador da Rio-2016 disse que “preserva os direitos trabalhistas e cumpre a legislação vigente”.

“Na terça-feira houve de fato uma aglomeração na saída dos funcionários e houve tumulto. A Força Nacional foi acionada. Lamentamos o ocorrido e trabalhamos para resolver o problema. Depois desse dia, não houve outros incidentes.”

A Força Nacional também foi procurada para comentar o tumulto. "Uma empresa foi contratada para fazer a governança dos trabalhadores da Vila", disse a corporação através de sua assessoria de imprensa, "e fez o transporte das bolsas e mochilas de um local para outro. A Força Nacional foi solicitada para dar apoio no local e manter a segurança de todos."

Questionada sobre o uso de spray de pimenta na operação, a assessoria da Força não confirmou.

O episódio do tumulto se soma a uma lista de reclamações feitas pelos funcionários que atuam na Vila Olímpica. Entre elas, estão as constantes acusações de furtos que recaem sobre eles, jornadas muito longas e condições de trabalho abaixo das ideais.

Camareiras ganham cerca de R$ 50 por dia para arrumar os quartos dos melhores atletas do mundo.

Topo