Erlon é prata na Rio-2016, mas ouro como pai, marido e companheiro
Foi dada a largada e Rosangela abaixou a cabeça. Laralys no colo e Emily Rafaele agarrada com a outra mão. Começou a rezar e assim se manteve até os 800m. Nem parecia a animada mulher que sambava antes da prova, acompanhando uma demonstração de capoeira.
Levantou os olhos, viu o ouro começar a ser ameaçado. Rezou mais um pouco, com mais velocidade. E, então, chorou. Chorou, sem escândalo, um choro contido. E, ao final, resultado confirmado, disse, sem gritar: é prata.
Foram 3min44s819 e Erlon, seu marido, ao lado de Isaquias Queiroz, havia conquistado a 16ª medalha do Brasil na Olimpíada.
Prata? Por pouco tempo. Logo em seguida, Rosângela levantou a cabeça, arrumou o cabelo e definiu a classificação correta. “Ele é ouro. Um pai de ouro, um marido de ouro, um companheiro de ouro. Esse homem vale muito, gente”.
Estão juntos há oito anos. E casados, há dois. “Nós resolvemos oficializar tudo e tivemos já a Laralys, nossa princesa, que tem um ano e dois meses. Antes, ele já havia registrado e assumido a Êmily, não esquece do circunflexo, no cartório. Nossa vida foi dura, mas agora é ótima”.
O casal pensa em adotar um garoto. Mas é coisa para daqui um tempo. Para coroar a família que se formou há pouco tempo.
O início foi de separações. Erlon viveu três anos em São Paulo, dois no Rio e o casal só se via nos finais de semana. Depois, com a construção de um centro de treinamento em Lagoa Santa, na região metropolitana de Belo Horizonte, há dois anos houve o casamento e começou a convivência diária.
A vida dele é de treinos e mais treinos. “Acorda as sete, toma café comigo as sete e meia e vai treinar”. Das oito às 13. Descansa um pouco e treina das 15h30 as 19h. “Meu papel é ajudar. Sou uma esposa presente, converso sobre tudo, escuto o que ele está fazendo, incentivo.”
É a primeira olimpíada de Rosângela, que viu, pela televisão, ele ser décimo colocado em Londres. “A melhora nesses anos foi demais. Ele está mais forte e melhor tecnicamente também”
Rosângela faz parte informalmente da família real da canoagem brasileira. Estavam todos ali. Dilma Francisca, mãe de Isaquias, que comandou uma reza antes da prova. Lucas e Mara, seus filhos. Larissa, a namorada de Isaquias, feliz da vida porque ele resolveu tatuar seu nome no corpo. E Êmily, que até gostaria de remar, mas que não tem aprovação dos pais. “Ele diz que eu vou ficar muito musculosa”.
O campeão de prata e marido de ouro só vai se encontrar com a mulher no dia seguinte, pela manhã. “Vou dar um beijo, vou dizer que ele é ótimo, que ele vale ouro e depois vamos rezar um pouco e passear na praia. A gente merece”.