"Continuo o mesmo Isaquias sem rim", diz astro após maratona de selfies
Bruno Doro e Guilherme CostaDo UOL, no Rio de Janeiro
Não é difícil notar o quanto a vida de Isaquias Queiroz mudou nos últimos dias. O brasileiro de 22 anos conquistou três medalhas na canoagem da Rio-2016 (duas pratas e um bronze) e se tornou o primeiro atleta nacional a acumular tantos pódios em uma edição olímpica. Neste sábado (20), depois da terceira prova, o público correspondeu: tratado como astro, o canoísta precisou até de uma rota alternativa para escapar da maratona de selfies com o público que estava na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. Só é difícil notar algo diferente no comportamento de Isaquias. Nos primeiros instantes como popstar, o canoísta mostrou o mesmo estilo extrovertido e humilde que sempre marcou sua trajetória.
Ainda na área em que interagia com jornalistas na Lagoa Rodrigo de Freitas, Isaquias recebeu uma ligação de Edvaldo, amigo e companheiro de treinos da época em que ambos viviam em Ubaitaba (BA). Agradeceu pelas felicitações, ouviu por alguns instantes e depois negou que tenha “sentido o sucesso”.
“Não, pô! Eu sou o mesmo Isaquias. Continuo o mesmo Isaquias sem rim. Normal”, disse o atleta. O canoísta perdeu um rim quando tinha dez anos, após ter caído sobre uma pedra e sofrido hemorragia. Depois disso, ganhou o apelido de "Sem Rim".
O fragmento de conversa é um bom exemplo do quanto a Rio-2016 tem transformado a vida de Isaquias. Até este ano, o Brasil jamais havia frequentado o pódio olímpico da canoagem. Além de ter findado esse jejum, o baiano de 22 anos saiu dos Jogos como o primeiro representante nacional a ter três medalhas em uma edição dos Jogos.
As medalhas de Isaquias na Rio-2016 foram coletadas na terça-feira (16), na quinta (18) e no sábado (20). Afora o fato de a prova derradeira do brasileiro ter sido realizada em um sábado, foi nítido o incremento gradual no número de pessoas presentes na Lagoa Rodrigo de Freitas – não apenas nas arquibancadas, mas nas grades que separam a rua e o estádio de canoagem. Nesta manhã, uma hora antes do início da prova do canoísta, a fila para entrar no local tinha mais de um quilômetro de extensão.
Depois de Isaquias ter conquistado a prata, a maior parte desse público tentou se aproximar do ídolo. O brasileiro comemorou no pódio e saiu de lá enrolado com uma bandeira do país. Assim que chegou à zona mista reservada a jornalistas de imprensa escrita, caminhou até um canto em que era possível interagir com o público e atirou o símbolo nacional para eles.
Isaquias também tirou selfies. Muitas selfies. Solícito, o canoísta parou para dar atenção a praticamente todas as pessoas que o abordaram. Sorriu, brincou e repetiu em um volume muito maior o ritual que havia feito depois das provas anteriores.
Quando tentou sair da zona mista e caminhar até a sala em que seria realizada a entrevista coletiva dos medalhistas, Isaquias teve de parar. No portão que separava o setor de imprensa e a área em que o público podia circular, muitas pessoas se aglomeravam em busca de uma imagem com o medalhista e gritavam o nome dele.
Ao ver o tamanho da aglomeração, Marcus Vinicius Freire, diretor-executivo de esportes do COB (Comitê Olímpico do Brasil), parou no meio do caminho e segurou Isaquias. O cartola e outros membros do estafe que acompanha o canoísta perceberam que seria impossível passar com o atleta no meio do público, voltaram e resolveram percorrer de barco o caminho até a zona mista.
“A visibilidade que a canoagem vai ter a partir de agora depende da gente. Se a gente ganhar medalhas e representar bem o Brasil, as pessoas vão olhar mais. A gente também tem de ter carisma e retribuir o amor da torcida brasileira, que foi sensacional aqui”, disse Isaquias.