Canoagem

Conheça a Dilma que é amada nos Jogos Olímpicos do Rio

Lucas Lima/UOL
16.ago.2016 - Isaquias Queiroz comemora com a mãe, dona Dilma, após conquistar a medalha de prata na categoria C-1000 imagem: Lucas Lima/UOL

Bruno Doro e Guilherme Costa

Do UOL, no Rio de Janeiro

Dona Dilma passou pelas arquibancadas do estádio de remo da Lagoa Rodrigo de Freitas seis vezes nos últimos dias. Sempre que a reconheciam, ouvia elogios. “Parabéns” dizia uma. “O Brasil deve muito à senhora”, falava outro. Teve até gente cochichando: “Será que é ela mesmo?”.

Era: Dona Dilma é a mãe de Isaquias Queiroz, da canoagem, o melhor atleta brasileiro dos Jogos Olímpicos do Rio de janeiro. O nome é uma coincidência. Por que, se a presidente afastada divide opiniões do público brasileiro, a mãe que criou sozinha dez filhos, quatro deles adotados, com o salário de auxiliar de serviços gerais que ganhava em uma rodoviária é unanimidade.

“Olha, quero que a senhora saiba como estamos orgulhosas do seu filho. Ele é um gigante. Muito obrigado”, disse uma torcedora, enquanto abraçada a senhora de 53 anos que está no Rio de Janeiro pela primeira vez.

Sem muito jeito para lidar com tanta gente, Dona Dilma acenava, aceitava os abraços encolhida. Ela pode parecer frágil, mas não é. O pai de seus filhos morreu cedo, nos anos 90, e ela teve de criar toda a família sozinha. Trabalhava na rodoviária, fazendo, entre outras tarefas, a faxina dos banheiros. Em casa, os filhos cuidavam uns dos outros, em sistema de turnos. Os mais velhos cuidavam dos mais novos. Foi assim que Isaquias queimou metade de seu corpo quando era criança. Uma distração de uma irmã mais velhas.

O canoísta é um dos mais novos dos dez irmãos. É por causa dele que a mãe entrou pela primeira vez em um avião. “Ele veio tão pequenininho para cá, aqui para o Rio de Janeiro. Não tinha nem 15 anos quando veio para essa cidade. E daqui foram jogando ele para um canto, para o outro. E agora está de volta”, diz. “E aqui foi que ele fez o convite. Queria que eu viesse para ver ele remar. Eu disse: ‘Vou, meu filho. Com todo o carinho e com todo o prazer’. Estou com o coração preparado para tudo”, completa.

O coração pode estar pronto para o que Isaquias fizer na água. Mas Dona Dilma não estava pronta para as câmeras de TV. Quando é focalizada e um microfone se aproxima, seu reflexo é se encolher, abaixar a cabeça, responder em voz baixa. “É muita entrevista. Vixe, falei com muita gente”, explica.

Essas conversas são luxo. Quando fala com os filhos, porém, é por necessidade. Dos dez filhos que ela criou em Ubaitaba só um continua por lá. Os outros estão espalhados pelo Brasil. “A gente fala bastante com os filhos. Porque tem que dar força e botar o barco para frente. Se ficar de braço cruzado não vai nada para frente. Tem que jogar o barco para frente como o Isaquias faz”, ensina.

“Ele [Isaquias] queria as três medalhas de ouro. Mas eu disse: ‘Meu filho, que seja o que Deus te der. Se Deus der de ouro, de prata ou de bronze, tem que agradecer. E se não der, tem que agradecer também. Agradecer por tudo’. Então, vamos levando as medalhas assim”.

Agora que o filho já conseguiu as três medalhas que veio buscar, é hora para a mãe receber o presente. "Ainda não fui ao Cristo. Creio que ele vai dar uma saída comigo para ver as maravilhas daqui do Rio de Janeiro”.

Topo