Olimpíadas 2016

"Não acho que ficou imagem negativa", diz Fratus após perda da medalha

Alexandre Cassiano/Nopp
Cotado para chegar ao pódio, Bruno Fratus foi apenas o sexto colocado nos 50 m livre da Rio-2016 imagem: Alexandre Cassiano/Nopp

Guilherme Costa

Do UOL, no Rio de Janeiro

Bruno Fratus, 27, protagonizou um dos momentos que mais repercutiram na Rio-2016. O nadador tinha acabado de obter a sexta posição nos 50 m livre, prova em que era cotado ao pódio – tinha um dos dez melhores tempos do mundo no ano e havia sido medalhista de bronze no Mundial de esportes aquáticos de 2015, em Kazan (Rússia). Quando saiu da piscina, foi interpelado por uma repórter do canal fechado “Sportv” e questionado “se estava chateado”. “Não, eu estou felizão, né?”, respondeu o atleta, que depois voltou à área de competições do Estádio Aquático Olímpico para se desculpar.

Quase uma semana depois do episódio, a vida de Fratus andou. O nadador já voltou a Auburn, nos Estados Unidos, onde treina desde 2013. Retomou as atividades na última quarta-feira (17) e iniciou preparação para o Troféu José Finkel, torneio nacional cujo início está marcado para o dia 12 de setembro. Ainda não conseguiu descansar corpo ou cabeça depois da frustração de ter saído da Rio-2016 sem passar pelo pódio, mas já conseguiu acompanhar a repercussão da entrevista dada logo após deixar a piscina.

“Foi uma reação humana. Você trabalha a vida inteira para alcançar um resultado, tem de resolver a situação em pouco mais de 21 segundos, bate na parede, vê que não alcançou, tem uma caminhada de cinco metros para digerir e tem de ser simpático na frente das câmeras. Eu não vou ser um personagem e não vou abrir o sorrisão que as pessoas querem ver”, explicou Fratus em entrevista exclusiva ao UOL Esporte - o bate-papo foi realizado por telefone, logo depois de ele ter concluído uma sessão de treino.

“Não entendo como uma pessoa trabalha a vida inteira, faz todos os tipos de sacrifício, passa por dor no treino, fica longe da família, nada mal e fala que está satisfeita. Cheguei a pedir desculpa porque achei que foi desnecessário com a repórter, mas não acho que ficou uma imagem negativa”, completou o atleta.

Extremamente competitivo, o nadador é dedicado a ponto de ser tratado como exemplo de comportamento por CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) e COB (Comitê Olímpico do Brasil). Na Rio-2016, o incômodo dele após um resultado adverso chamou ainda mais atenção por causa da perspectiva – a maioria dos nadadores nacionais adotou um discurso que flertou com o conformismo.

“Tenho sangue quente correndo nas veias e trabalho muito duro para honrar essa bandeira que eu conquistei. Quando era moleque, meu primeiro grande sonho como atleta era ter uma touca do Brasil com meu nome. Me deixa injuriado quando o resultado que apresento é algo abaixo do que deveria ser ou algo que não esteja à altura dessa touca. Não espero que todo mundo entenda, mas usar a bandeira de seu país junto com os aros olímpicos é algo que significa muito para um atleta. Transcende o entendimento das pessoas que não fazem parte desse mundo. Não é algo que você faz, mas algo que você é. Você se torna olímpico”, disse Fratus.

O nadador treina com Brett Hawke, australiano que trabalhou com Cesar Cielo (dono de três medalhas olímpicas) e que hoje também orienta Marcelo Chierighini, principal nome do Brasil nos 100 m livre. Fratus ainda não conversou com o técnico sobre sua prova na Rio-2016 ou sobre perspectivas para o próximo quadriênio.

“Não vou sossegar enquanto não conseguir o que eu quero. Vou sempre procurar formas de nadar mais rápido e de investir nessa carreira com tudo que eu tiver. Só paro quando chegar lá”, completou Fratus, que ainda pretende competir por mais um ou dois ciclos olímpicos.

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